Ontem, 11 de Julho, arrancou a época da contemplação, que tem como ponto alto o festival de música UxU (a NorrlandsOperan faz história com uma versão única e ao ar livre de Elektra, de Richard Strauss, em colaboração com os catalães La Fura dels Baus), um teatro de Verão no Kulturcentrum (incorpora acrobacia, fogo e dança), um projecto designado Art Camp, com vários artistas ocupando parques de campismo para exporem os seus trabalhos, um festival de música folk e blues (em Holmön terá lugar o 20.º festival da canção) e alguns eventos desportivos que abrangem futebol, ciclismo e atletismo.
Umas gotículas mancham o empedrado da rua mas os meteorologistas anunciam subida das temperaturas e dias de um sol radioso. As tendas registam agora uma afluência considerável, os pequenos restaurantes de rua já poucas cadeiras têm vagas, a cerveja começa a substituir o café, a cidade está mais desperta do que nunca. E assim promete continuar até ao final do ano. Entre 29 de Agosto e 9 de Outubro, decorre a época das colheitas, incluindo no programa circo contemporâneo, artistas de rua, um festival de rock e de jazz e, com o início de novo ano escolar, o projecto Fair City, focado na educação do futuro. O cartaz inclui ainda, durante esse período, um festival cultural chinês e a semana da moda, culminando com uma exibição de tesouros sami, em Lycksele, cidade também pertencente à província de Västerbotten e onde funciona um campus universitário.
Umeå é, definitivamente, uma cidade com os olhos postos no futuro e se a cultura é, há já alguns anos, uma parte essencial no seu dia-a-dia, a arquitectura vai conquistando também o seu espaço, com a inauguração do ultramoderno Väven, nas margens do Umeålven, um edifício que é já um ícone para os locais. Desenhado pelos arquitectos da mundialmente famosa firma Snohetta, o Väven irá acolher um museu, salas de música, de arte, artesanato, dança, bem como um hotel e alguns restaurantes.
Sem ser deslumbrante, Umeå possui carácter e exerce sobre quem a visita um certo magnetismo que nem um dia triste atenua. É convidativa na sua sobriedade. Discreta e exuberante. Difícil de definir. Alguém escreveu, não me recordo quem, que aqueles que chegam à cidade não tardam a pronunciar a sua sentença: “Há algo de especial em Umeå”. A grande questão, podia ler-se ainda, é apontar exactamente o que é “algo especial”.
A inauguração do Väven, nos últimos meses do ano, constitui um dos momentos supremos de Umeå-2014 e o seu exterior será contemplado com uma estátua de Stieg Larsson, uma das maiores celebridades suecas, escritor e jornalista, falecido há 10 anos, com a idade de 50. O autor da trilogia Millenium, com mais de 60 milhões de exemplares vendidos e traduzido em mais de 50 línguas, cresceu em Umeå e supõe-se mesmo que Lisbeth Salander, uma das personagens da sua obra, é baseada numa rapariga típica da cidade.
Afasto-me um pouco do centro, não muito, à descoberta do fascinante Guitars, o museu que recebe cerca de 500 guitarras eléctricas e outros objectos da cena musical desde a década de 1950. Umeå respira música e a última época, a da viagem, começa com um festival pop, prossegue com ópera e culmina com a festa virada para o futuro, Future flows through us. Pelo meio, anónimos e famosos, locais e turistas, todos poderão assistir ao espectáculo de uma cidade iluminada, o festival Umeå Autumn Lights.