-Aquele jardim é novo!
As duas jovens, sentadas à minha frente no autocarro vindo de Estocolmo, vão conversando animadamente em inglês enquanto lançam olhares através da moldura da janela que deixa ver um céu de um cinzento uniforme. Um pouco por todo o lado, e não apenas no espaço contíguo à universidade que a sueca e a inglesa agora fitam, a cidade mostra traços de uma transformação que perde brilho à luz mortiça da manhã que se espreguiça. Pouco passa das seis, Umeå dorme profundamente envolta em nuvens e silêncio e só os vidros de uma ou outra garrafa espalhados pela rua deserta confirmam que a vida, com todos os seus excessos, pauta a sua existência agora dissimulada.
A bonita estação de comboios, com o seu telhado verde, recorta-se contra a abóbada pesada, a praça em semicírculo, composta por exíguos espaços comerciais, vive a sua solidão matinal e só ao fim da Radhusespl, quando o elegante edifício da câmara se anuncia, surgem os primeiros sinais de presença humana. Todos os anos, durante três dias, Umeå recebe um importante mercado e os vendedores, provenientes de aldeias próximas ou de países mais exóticos, vão montando as suas tendas, que não tardarão a atrair os olhares dos transeuntes.
- É uma cidade jovem, cheia de vida mas – e ergue os olhos – o frio faz-me sentir saudades das Filipinas.
Com o seu sorriso fácil, Cris Degracia Holmgren, casada com um sueco e a residir em Umeå há oito anos, convida-me a provar algumas das delícias locais que, com esmero e com a ajuda da irmã, Jessica Degracia, vai colocando na bancada ainda órfã de visitantes. Caminho na direcção do rio, aceito com prazer a serenidade do Döblens Park, de onde avisto a Kyrkbron, a Tegsbron e a Gamla bron, as pontes que cruzam o rio Umeå, e demoro-me um pouco mais a admirar o exterior da mais importante igreja da cidade e a exposição ao ar livre dedicada aos Roma, uma admirável apresentação de rostos a preto e branco que clama o respeito pelas minorias – a despeito de um crescente movimento nacionalista, a Suécia permanece com um país aberto aos exilados políticos, acolhendo em média, anualmente, cinco centenas de refugiados dos mais diversos quadrantes.
- Não consigo perceber, num país como a Suécia, a lógica nacionalista e as suas manifestações de racismo. Fui educada a respeitar as diferenças e tenho esperança de que as próximas gerações erradiquem de uma vez por todas este sentimento xenófobo que deveria envergonhar todos os suecos – enfatiza Terese Jonsby, já com mais de 35 verões festejados, muitos deles dedicados à sua paixão pela pintura.
Lanço um derradeiro olhar às fotografias e regresso ao centro com a frase a martelar-me o cérebro: “Eles estão a olhar para ti porque querem que tu olhes para eles.” As artérias principais começam a encher-se de gente, os aromas a comida tailandesa perfumam a atmosfera, os vendedores mantêm-se serenos mesmo quando os potenciais compradores olham os seus produtos com indiferença. Junto ao posto de turismo, sentados num banco, um casal de idosos rodeia-se de cerveja.