Fugas - Viagens

  • Vista da muralha Mosteiro de Santa Clara
    Vista da muralha Mosteiro de Santa Clara Miguel Nogueira
  • O aviso, em português, de que o funicular está fora de serviço
    O aviso, em português, de que o funicular está fora de serviço Miguel Nogueira
  • Cemitério Prado do Repouso
    Cemitério Prado do Repouso Miguel Nogueira
  • A ver o Douro
    A ver o Douro Miguel Nogueira
  • Miguel Nogueira
  • Mercearia São Nicolau
    Mercearia São Nicolau Miguel Nogueira
  • Cartazes num muro do bairro São Nicolau, Bonfim
    Cartazes num muro do bairro São Nicolau, Bonfim Miguel Nogueira
  • A ver o Douro
    A ver o Douro Miguel Nogueira
  • A ver o Douro e as pontes
    A ver o Douro e as pontes Miguel Nogueira
  • Na imagem, vêem-se lavatórios de casas de banho comunitarias
    Na imagem, vêem-se lavatórios de casas de banho comunitarias Miguel Nogueira
  • Bairro Herculano
    Bairro Herculano Miguel Nogueira
  • Mercearia do sr. Armando, Bairro Herculano
    Mercearia do sr. Armando, Bairro Herculano Miguel Nogueira
  • Capela dos Alfaiates
    Capela dos Alfaiates Miguel Nogueira
  • Muralha do Mosteiro de Santa Clara
    Muralha do Mosteiro de Santa Clara Miguel Nogueira
  • Mosteiro de Santa Clara
    Mosteiro de Santa Clara Miguel Nogueira
  • Ilha São Nicolau
    Ilha São Nicolau Miguel Nogueira

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O Porto é uma estória que Germano Silva lhe vai contar

O que significa que em cada esquina há uma história, em cada varanda de ferro forjado uma possibilidade, em cada nova artéria uma antiga quinta do bispo ou de algum nobre, em cada viela uma personagem que Germano recupera. Ver o Porto pelos olhos de Germano é estar mais atento à cidade com que nos cruzamos diariamente. De que outra forma se pode explicar que nunca tivéssemos reparado na Capela de Nossa Senhora de Agosto, ou Capela dos Alfaiates, que está mesmo ali, plantada no meio da via, com a Rua do Sol a passar-lhe a um lado e a Rua de S. Luis a correr-lhe pelo outro?

O Porto dissipado

A capela está fechada (o horário afixado no exterior explica que só abre entre as 14h e as 17h, de segunda-feira a sábado e para a missa das 8h15, ao domingo), mas no seu guia a pé Germano conta-nos que “o interior é intensamente iluminado pela luz que entra através de um amplo janelão aberto na fachada” e que o retábulo maneirista “está dividido em oito painéis que representam cenas da vida da Virgem”. No século XVI, a capela estava instalada em frente à Sé, mas haveria de ser demolida em 1940, para ser reconstruída, treze anos depois, no local onde hoje está instalada. “Estive aqui na altura do Natal, com um grupo de 250 pessoas. Pedi a chave ao senhor da Confraria dos Alfaiates, para mostrar o interior, mas não cabíamos todos lá dentro, tive de contar a história mais do que uma vez, para todos ouvirem.”

A ele já o tentaram “institucionalizar”. Propuseram-lhe parcerias com agências de turismo. Uma mulher em busca de prenda ideal para o marido quis que Germano organizasse um passeio à medida do aniversariante. Que lhe pagava, disse-lhe. Mas ele recusou. “Eu faço isto voluntariamente, por gosto”, explica. As décadas de conhecimento adquirido alimentam as crónicas que escreve semanalmente para o Jornal de Notícias e para a revista Visão e também os vários livros sobre o Porto que já publicou. O resto é distribuído, sem avareza, por todos os que o queiram ouvir.

Ali, na Rua do Sol, que “começou por ser a Viela das Tripas”, morava “gente ligada à igreja”. Lá ao fundo, onde hoje não há nada, havia o casarão do conde de Samodães, cujos domínios se estendiam até ao miradouro das Fontainhas, e onde, já muito depois do conde, funcionou a Escola Comercial de Oliveira Martins, que Germano Silva frequentou quando, aos 17 anos, e depois de trabalhar durante seis na Fábrica de Lanifícios de Lordelo, decidiu que tinha de mudar de vida. Agora, aponta o terreno vazio, junto à Rua do Duque de Loulé, e diz: “Tinha aulas à noite e vinha a pé, todos os dias, de Lordelo do Ouro para aqui. As pessoas perguntam-me: ‘E andas a pé?’ Pois ando, ando”, ironiza.

Nas Fontainhas espreitamos de novo o rio, ele procura, entre a folhagem, a Capela do Senhor d’Além, entaipada nas encostas de Gaia, diz que era ali, em Quebrantões, que ficavam as “emparedadas” na Idade Média — “um castigo horrível que se aplicava às mulheres que se portavam mal, que eram deixadas no interior de um espaço fechado, apenas com uma abertura pequena para lhes passarem água, até morrerem”, explica —, volta-se para subir, em direcção à Rua de Alexandre Herculano e mergulha no Bairro Herculano, cujas ruas percorre sem qualquer hesitação.

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