Fugas - Viagens

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O dia em que o céu de Sint-Niklaas se enche de balões que celebram a paz

O nabo como símbolo

O vento moderado leva-nos, a brisa é agradável, o ar é puro. Um manto verde aos nossos pés, curiosos desenhos recortados na paisagem na cidade que presta o seu tributo a Gerardus Mercator, o conhecido matemático, geógrafo, cosmógrafo e cartógrafo flamengo que tanto se dedicou à construção de globos e de mapas e tão pouco a viajar pelo mundo que perscrutava de longe. No museu, conhecido como Museu da Cidade e da região da Waasland, percorre-se a história da cartografia até às suas origens mas também se podem admirar dois globos que pertenceram ao homem que se tornou famoso por uma projecção (designada Projecção de Mercator), em 1569, expondo um grande planisfério (com 250x128 cm), constituído por 18 folhas impressas separadamente.

- Repara como a praça está fortemente protegida por um harmonioso conjunto arquitectónico e a cidade não tem uma única muralha. Sempre foi um alvo fácil. Mas hoje celebra-se a paz, os balões celebram a paz.

Escuto as palavras de Luc Verhassel, cujo filho está envolvido na organização do Vredesfeesten, e reflicto sobre elas. Disputada em tempos de antanho por franceses, ocupada, mais recentemente, por alemães, Sint-Niklaas viveu distintos períodos ao longo da sua existência, desde incêndios que destruíram a cidade até invasões, desde fácil adaptação à era da industrialização até aos novos conceitos inspirados na Revolução Francesa.

Sob este céu banhado de balões que lhe emprestam uma grande parte da sua vivacidade, também se passeou, com os pés firmes na terra ou montado no seu cavalo, Napoleão. Corria o ano de 1803, do qual consta o registo, por ordem do imperador corso, da passagem de Sint-Niklaas a cidade. Os balões, como as bandeiras, viajam ao sabor do vento, e a bandeira de Sint-Niklaas, dividida irmãmente em listas verticais de amarelo e azul, tem sobre esta tonalidade um nabo, um vegetal que, associado a outro cavalo e a outro imperador, invoca um tempo de lendas, mais fáceis de imaginar com uma visão sonhadora desde o balão.

Uma vez, há muitos, muitos anos, Sint-Niklaas foi visitada por Carlos V e, como é normal perante tão grande acontecimento, a população acotovelava-se para ver passar o Imperador. Entre ela, estava um pequeno lavrador segurando um nabo que pretendia oferecer a tão proeminente figura. Mas os guardas, imbuídos de um rigor leonino, impediam a passagem do lavrador. O imperador, escutando um rumor no meio da multidão, tentou descobrir a causa do tumulto e, uma vez descoberta, perguntou ao camponês o que tinha nas mãos, ao que este respondeu um fruto gigante que lhe queria oferecer. Intrigado, Carlos V autorizou os guardas a deixarem aproximar-se o lavrador, que entregou nas mãos de sua majestade um nabo, recebendo em troca uma carteira bem recheada.

Ao longe, avista-se o Sinaai, não sob o sol do Médio Oriente, mas sobre os raios de um sol belga generoso. Segundo historiadores do século XIX, a toponímia deriva, de facto, do Monte Sinai, alegadamente por um cruzado ter transportado com ele uma relíquia de Santa Catarina (a quem é dedicado importante mosteiro nessas terras egípcias) de Alexandria — e Santa Catarina permanece como a padroeira de Sinaai. O balão plana tranquilamente, alguns semelham-se a nabos em posição invertida.

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