Fugas - Viagens

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O dia em que o céu de Sint-Niklaas se enche de balões que celebram a paz

A religião e o comércio

O silêncio das alturas é quebrado pelo som mágico dos 35 carrilhões da torre da neo-gótica Stadhuis, o edifício que domina a praça e cuja construção remonta aos últimos anos do século XIX, bem mais jovem que a história da cidade, já referida em 1217, quando Gosuinus, bispo de Tournai, incitado por clérigos locais, fundou em Sint-Niklaas uma igreja dedicada a São Nicolau. Há quem defenda, em algumas teses, que não foi inocente a escolha das entidades religiosas: o santo é o protector dos comerciantes; logo, nada melhor do que atrair a classe mercantil.

Num tempo de prosperidade para a região, a cidade beneficiou de um rápido crescimento — em 1241 era já o centro administrativo da região — e do sentimento bondoso de Joanna, Condessa de Constantinopla — a despeito do nome exótico, não era mais do que a irmã do Conde de Flandres —, que ofereceu uma significativa parcela de terreno à recém-formada paróquia de Sint-Niklaas que incluía uma cláusula no mínimo bizarra: o território assim deveria permanecer, vazio, estéril de construções, da comunidade e para a comunidade, e essa obrigatoriedade explica a inusitada dimensão da Grote Markt que se mantém, bem distinta, no campo de visão, sobrevoada por um mar de balões com a sua vaga de tantos matizes e feitios: são patos, tucanos, canecas de cerveja, cangurus, uma onda crescente, tingindo os céus.

Todas as semanas, às quintas-feiras, não é a largada de balões que marca a cadência da praça mas o seu mercado de produtos frescos e outros tantos regionais, assumindo um carácter intimamente ligado à história da Grote Markt como lugar de comércio, estrategicamente colocado no eixo Antuérpia-Ghent. É necessário recuar 500 anos para traçar essa história, até ao dia em que Maximiliano de Habsburgo concedeu à cidade o direito de realizar um mercado semanal que ainda hoje continua a atrair, com os seus cheiros e vozes imperceptíveis, os cidadãos locais. O comércio do linho e de lã crescia exponencialmente, e o mesmo imperador autorizou, também em 1513, a realização de uma feira anual, em Dezembro, poucos dias antes de a cidade festejar o seu santo patrono; e, mais tarde, em 1578, uma outra ganhou corpo, ocorrendo na primeira semana de Setembro até aos primeiros anos do século XIX, altura em que foi transferida para Maio.

Albert Boekholt já tem outra cor mas o medo permanece intacto; para cá e para lá, a cidade espraia-se, árvores bordejando ruas e casas de tijolo avermelhado, o rio brilhando à luz dos raios cintilantes, o verde viçoso da natureza lançando o seu charme.

Logo atrás da Rathuis recorta-se, como um rival, a Igreja de Nossa Senhora (Onze-Lieve-Vrouwkerk), levantada na primeira metade do século XIX com as suas majestosas cúpula dourada e estátua (seis metros) de Maria. Daqui de cima vejo ainda, mesmo em frente à Stadhuis, o Parochiehuis, casa paroquial e mais tarde câmara municipal, o Cipierage, uma antiga prisão hoje convertida em biblioteca e a Landhuis, a casa onde a justiça se fazia cumprir em Sint-Niklaas, prédios históricos cujas funções originais remontam aos anos 30 do século XVII. 

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