Fugas - Viagens

  • SIMON DESCAMPS/HEMIS/CORBIS

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Do tempo da cidade mais aborrecida não resta mais do que uma memória

Uma suave brisa convida a ficar por mais uns minutos, contemplando com prazer o castelo magnificente com as suas quatro torres que, à primeira vista, lhe dão um formato de cama. O Bratislavsky hrad irá beneficiar, nos próximos meses, de obras de renovação, um projecto (inclui um novo parque de estacionamento) estimado em 26 milhões de euros que será levado a cabo pela Vashotav, uma construtora que, segundo alguma imprensa eslovaca, é controlada por empresas associadas a Juraj Siroky, alegadamente um dos maiores patrocinadores do partido Smer-SD, do Primeiro-Ministro Robert Fico, no poder entre 2006 e 2010 e de novo desde Abril de 2012.

Com ou sem polémica, o castelo, levantando-se no alto da colina, bem próximo do coração da cidade, é o monumento mais visitado pelos turistas em Bratislava, encerrando uma história que é quase tão antiga como a da própria cidade, embora a actual estrutura, na sua forma rectangular, remonte ao século XV. Durante a ocupação turca de Budapeste, o castelo funcionou como residência da realeza húngara (desde a queda da Grande Morávia até ao final da I Guerra Mundial o território hoje ocupado pela Eslováquia era dominado pelos magiares) mas no início do século XIX foi destruído por um incêndio e só em meados do século passado é que as autoridades se empenharam na sua restauração — e restaurado, mas há bem pouco tempo, foi também o Museu de História, no interior do castelo, com interessantes exibições que, entre outras, vão da numismática ao artesanato, da pintura à escultura, num total de mais de 250 mil objectos.

A mítica praça

À meia-noite do dia 31 de Dezembro de 2002, centenas de milhares de eslovacos, reunidos na Praça Slovenske Narodne Povstanie, vulgarmente conhecida como SNP Namestie, dançaram para festejar a independência do país. A praça, uma das maiores da cidade e onde se ergue o monumento que presta homenagem aos homens que integraram a Revolta Nacional Eslovaca, uma insurreição armada do movimento de resistência durante a II Guerra Mundial contra o governo fantoche apoiado por Adolf Hitler, é o habitual palco de concertos (e de celebração de vitórias no desporto, como em 2002, quando a Eslováquia se sagrou campeã do mundo de hóquei no gelo) e de protestos em Bratislava, o mais mediático dos quais em 1989, durante as manifestações da Revolução de Veludo.

No espaço de 20 anos e especialmente depois da adesão, há dez anos, à União Europeia, Bratislava, fundada em 907 d.C. e já no século XII uma grande cidade, transfigurou-se sem, no entanto, perder o charme que se respira quando se caminha pelo seu centro histórico. “Desde a Revolução de Veludo, a cidade tem procurado libertar-se da sua aparência cinzenta socialista, daqui resultando dois movimentos: um, com a construção de múltiplos espaços comerciais e o outro com o aparecimento de pequenos cafés, lojas e restaurantes em que se sente o toque familiar dos seus proprietários, sempre disponíveis para dois dedos de conversa com os clientes”, enfatiza Samuel Kovacik perante um sinal de concordância de Lucia Durackova: “Muitas empresas internacionais instalaram escritórios em Bratislava. Hoje há mais oportunidades de emprego para os eslovacos que falam outras línguas e, ao mesmo tempo, há cada vez mais estrangeiros a viver na cidade.”

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