Fugas - Viagens

  • SIMON DESCAMPS/HEMIS/CORBIS

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Do tempo da cidade mais aborrecida não resta mais do que uma memória

O sol brilha com intensidade quando Jakub Zilincan interrompe:

- Bratislava é actualmente uma cidade multicultural.

Josef Kleberc assume, pela primeira vez, algum cepticismo. “Bratislava começou a aperceber-se das suas potencialidades para se tornar uma grande cidade. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer para atingir o nível de outras cidades no mundo. Felizmente, a comunidade jovem é ambiciosa e está a provar que melhores ventos de mudança ainda estão para vir.”

A história e o charme

Se a esperança reside no espírito empreendedor dos jovens, os mais idosos continuam a revelar algumas dificuldades para se sintonizarem com uma realidade tão diferente da que viveram no período que antecedeu a revolução. “Como viajo muito, noto que os eslovacos são um povo pessimista e com elevado grau de insatisfação. As pessoas gostam de se queixar mas quero acreditar que é um pouco assim por todo o lado.” Para os mais novos a vida parece correr sobre rodas. Mas há excepções: “É uma pena não termos bicicletas para alugar, como em muitas outras cidades. Em Bratislava, de bicicleta, chega-se a qualquer lado em meia hora mas ainda não há infra-estruturas e, por outro lado, os condutores também não estão preparados”, observa Jakub Zilincan, um entre tantos jovens vivendo a felicidade do presente mas com a memória carregada de memórias. “Do que realmente sinto saudades é dos invernos frios. Nessa altura, ia com os meus pais até um lago gelado em Bratislava sem medo de que o gelo se partisse. Mas também recordo a minha ansiedade nos dias que antecediam a abertura dos mercados de Natal, todo aquele ambiente festivo.”

Partindo da SNP Namestie, a melhor forma de penetrar na zona histórica repleta de edifícios antigos em estilo rococó e barroco é através da Michalska Brana, já depois de percorrer a Obchodná, a artéria comercial de Bratislava. São ruas cheias de história, casas de alegres tonalidades, testemunhos do auge da cidade no século XVIII (sob o reinado de Maria Teresa da Áustria), um percurso que se deve fazer sem pressa e sem grandes planos, deixando apenas que visão tão harmoniosa nos surpreenda de forma natural. Sente-se prazer ao admirar a opulência dos seus teatros, o neobarroco Reduta, a festejar o seu centenário, o ainda mais antigo (data de 1886) Teatro Nacional Eslovaco — o primeiro acolhe a orquestra nacional filarmónica e o segundo é onde os locais (e não só) se deslocam para assistir a concertos de ópera.

Passo agora a Rybárska Brana, a Porta do Pescador, e não tardo a desaguar na Hlavné nám, a praça que se enche de esplanadas e de jovens no Verão, bem como de um mercado de artesanato que ganha maior expressão na época da Páscoa e do Natal. Por aqui fico, durante umas boas horas, ora atirando os olhos para a Fonte Roland no centro da praça, ora para a Stará Radnica, o edifício da câmara construído no século XV, ora para o Palácio Apponyi, agora transformado num museu de artes decorativas dos séculos XVIII e XIX, ora apenas para as gentes que passam sorridentes quando o sol já emite os seus tons dourados de final de tarde. Mas ainda antes que a noite inunde Bratislava, a cidade que até 1848 era conhecida como Pressburg ou Poszony, em alemão e em húngaro, vou ao encontro das suas esculturas espalhadas por aqui e por ali, representando um homem saindo de um esgoto, um fotógrafo, um homem pobre que era um cavalheiro e oferecia flores às mulheres, um outro que se diverte à custa da vizinha que tinha por hábito espiar os transeuntes ou, finalmente, o Soldado de Napoleão, inclinando o corpo para a frente sobre um banco.

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