Visões orientalistas
Uma outra “expedição”, mesmo se não aparta o caminheiro da torrente de visitantes, oferece também alguma exigência. Para vencer as veredas escarpadas que conduzem ao al-Deir — que tomam uma boa hora de caminhada — há quem se meta a negociar o aluguer de um jumento; será menos fatigante, quem duvida?, mas a dança dos cascos sobre o solo pedregoso e o lajeado irregular dos degraus é coisa de fazer torcer o nariz. Por seu próprio pé vai a maioria da gente, prudente, sem sobressaltos que quebrem a admiração da paisagem de ravinas.
A fachada do al-Deir, o “Mosteiro”, é uma das imagens das visões estereotipadas, e fortemente codificadas, do Orientalismo novecentista, saído das penas de Flaubert, Byron e Kipling, ou dos pincéis de Delacroix, Ingres e David Roberts (autor de uma bela e famosa pintura do al-Dair), entre tantos outros viajantes e artistas europeus cujo legado continua a escorar tanto preconceito contemporâneo. De um mirante vizinho do al-Deir (que foi túmulo de outro rei nabateu), alcança-se um panorama excelso sobre a cordilheira. Para noroeste, a sombra do rio Jordão e a sua atribulada margem ocidental; a oeste, o Neguev; a leste, adivinha-se o mar de areias ardentes do deserto da Arábia, de onde terão chegado os nabateus.
Apesar de alguns trechos da fachada acusarem sinais de irremediável erosão, o al-Deir respira uma certa juventude — digna de admiração, se pensarmos nos seus dois mil anos de vida. A degradação parece ser mais lenta aí do que nas construções esculpidas nos arenitos que lá em baixo, no vale, regressam lentamente à condição de poeira, juntamente com os deuses mais amados dos nabateus. Afinal, nem eles, os deuses, são eternos, nem a pedra poderá alcançar a idade do tempo, ou sequer a sua metade. Mesmo se a imaginação humana, pela voz do poeta inglês John William Burgon, se tenha lembrado de contemplar Petra com um hiperbólico epíteto: “A rose-red city half as old as Time”.
Os tesouros da margem oriental do rio Jordão
Apesar da localização da Jordânia numa das regiões mais instáveis do mundo, o turismo é uma das actividades que mais contribuem para a sua economia, registando-se cerca de oito milhões visitantes por ano, atraídos tanto pelo turismo cultural e religioso, como pelo ecoturismo. Se Petra é a principal razão da viagem, o país reúne um invejável património, de importância regional e universal.
A Jordânia faz parte, também, da Terra Santa. O rio Jordão está a dois passos de Amã e ao longo da fronteira com a Cisjordânia há uma série de lugares mencionados em narrativas bíblicas, assim como nos livros sagrados do judaísmo e do islão. O roteiro pode ser organizado a partir de Amã ou da cidade de Madaba, situada a uma vintena de quilómetros da capital. A meia hora de viagem a partir de Madaba está situado o Monte Nebo, de onde Moisés terá contemplado a “terra prometida”, segundo um relato bíblico; não muito longe fica o local do rio Jordão onde Jesus Cristo terá sido baptizado; um pouco mais a sul, estão as praias do Mar Morto.