Fugas - Viagens

  • Mara Gonçalves
  • Mara Gonçalves
  • Parque arqueológico Galo-Romano
    Parque arqueológico Galo-Romano Mara Gonçalves
  • Mara Gonçalves
  • Mara Gonçalves
  • Mara Gonçalves
  • Fresque des Lyonnais
    Fresque des Lyonnais Mara Gonçalves
  • Hôtel de Ville
    Hôtel de Ville Mara Gonçalves
  • Les Halles de Lyon - Paul Bocuse
    Les Halles de Lyon - Paul Bocuse Mara Gonçalves
  • Les Halles de Lyon - Paul Bocuse
    Les Halles de Lyon - Paul Bocuse Mara Gonçalves

Continuação: página 3 de 6

Lyon, rejuvenescer sem esquecer o passado

Em 1536, o rei Francisco I concedeu o monopólio da seda a Lyon, aproveitando a situação monetária que se vivia na cidade. “Como Lyon estava próxima da fronteira e numa encruzilhada de vias de transporte entre cidades importantes, era uma zona livre de impostos e por isso geradora de muitos negócios”, conta-nos o guia Jerome Fayet num português enferrujado, aprendido durante os anos que viveu no Porto. A Place du Change, na Vieux Lyon, era o palco privilegiado das transacções comerciais e financeiras, primeiro ao ar livre, depois na Loge du Change (literalmente casa de câmbio, hoje uma igreja protestante).

Ali perto nasceram as primeiras casas dos tecelões, transferidos para Croix-Rousse no século XIX, onde os prédios já estavam preparados para receber os grandes teares com o sistema de cartões perfurados criado pelo conterrâneo Joseph Marie Jacquard (um dos códigos que mais tarde inspiraria o sistema computacional) e projectados de forma a que os canuts (tecelões de seda) trabalhassem o maior número de horas possível.

As casas do lado sul da rua sobem apenas ao primeiro andar, enquanto no lado norte os edifícios podem ter mais de cinco andares, com as janelas muito próximas. “Assim um prédio não tapava o outro e era possível aproveitar o máximo de luz solar”, explica Jerome, apontando para um dos edifícios da Rue Dumont. “No Verão chegavam a tecer 16 horas por dia”, conta.

Na época áurea, a seda chegou a empregar mais de 100 mil pessoas na cidade e os tecidos eram enviados para as principais cortes da Europa. Hoje, menos de dez casas mantêm a actividade, pouco mais que para transmitir o know-how e fazer face a encomendas especiais.

Com a diminuição vertiginosa da importância da indústria da seda, o bairro foi-se renovando. O topo da colina, anexado ao município de Lyon apenas em 1852, ainda mantém o espírito de uma “aldeia grande”, onde a população “se diz primeiro croix-roussianne e só depois lionesa”, conta Jerome. Mais sossegado e com melhor qualidade de vida, o bairro vem atraindo cada vez mais famílias com filhos pequenos que querem fugir à cidade. Já a parte baixa de Croix-Rousse é agora preenchida por lojas vintage e de artigos em segunda mão e galerias de arte contemporânea e alternativa.

Entre ruas inclinadas, passagens, escadarias e pequenos jardins, voltamos ao Saône, onde salta à vista um solitário prédio amarelo com figuras pintadas. É o Fresque des Lyonnais, um dos murais pintados em trompe-l’oeil mais famosos da cidade (existem mais de cem), onde em cada falsa janela espreitam os vultos que marcaram a história de Lyon. Estão lá representadas 31 personalidades, onde não faltam figuras de renome internacional como Antoine de Saint-Exupéry (o escritor d’O Principezinho, nascido em Lyon, dá hoje nome ao aeroporto da cidade) e os irmãos Lumière, considerados os pais do cinema.

Apesar de ficar fora dos centros mais turísticos (o que em Lyon significa uma viagem de poucos minutos de metro), vale a pena visitar o Museu Lumière, inaugurado em 2003 no palacete onde a família viveu. Entre vários brinquedos dos primórdios do cinema e avanços no ramo da fotografia, estão lá os primeiros cinematógrafos e filmes da história (tem como único senão a informação estar exclusivamente em francês).

--%>