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Lyon, rejuvenescer sem esquecer o passado

Do Terreiro do Paço lionês à capital da gastronomia

Trilhada pelas margens dos dois rios que atravessam Lyon, a zona central da Presqu’ile tornou-se o núcleo político e cultural da cidade. Algumas ruas ainda mantêm o traçado medieval semelhante à Vieux-Lyon (como a rue Mercière, hoje ocupada por sucessivos restaurantes), mas a grande maioria do bairro é rasgado por avenidas largas, com praças e edifícios imponentes. Muitos deles, antigos conventos e palacetes, albergam museus (como o Museu das Belas Artes ou o Museu dos Tecidos e das Artes Decorativas), instituições políticas e financeiras, restaurantes, lojas de marcas internacionais e boutiques de luxo.

Vamos percorrendo as ruas infinitamente rectas, onde as fachadas dos edifícios estão quase todas restauradas ou em bom estado (tanto nas vias principais como nas adjacentes), os rés-do-chão divididos entre lojas e bares com esplanadas apinhadas. De repente, chegamos a Place Bellecour e, por momentos, sentimo-nos em plena Praça do Comércio, em Lisboa. Um gigantesco terreiro despido com uma estátua equestre ao centro, D. José substituído por Luís XIV. Ali perto, entre a Place Bellecour e a mais modesta Place des Terreaux (onde fica a câmara municipal, Hôtel de Ville, cujas salas de luxo sumptuoso e muita seda merecem uma visita), estava situado o antigo mercado de Lyon.

O edifício, ao lado do majestoso Palácio da Bolsa, foi demolido em 1971 (hoje substituído por um banco e um parque de estacionamento) e transferido meses depois para o bairro Part-Dieu, que então se erguia na outra margem do Rhône.

Tal como antigamente, continuam a chegar aos novos Halles de Lyon os melhores produtos da região: muitos enchidos (saucissons brioché, jésus, rosettes, saucissons de Lyon, andouillettes), os típicos grattons e quenelles, queijos (o mais conhecido é Saint Marcellin, de La Mère Richard), diferentes doces (desde tarte à la praline a coussin de Lyon) e os vinhos de Côtes du Rhône, a sul da cidade, e de Beaujolais, a norte.

Numa das charcutarias mais antigas e famosas do mercado, Sibilia, fomos encontrar duas luso-descendentes: Susana, de 27 anos, e Cátia, de 22. Num português que já não é língua materna, contam-nos que as famílias são ambas da zona do Porto e que costumam visitar regularmente Portugal. Entre conversas e provas, acabam numa fotografia de equipa: Colette Sibilia, a imponente gerente de 81 anos, a filha, as portuguesas e Minet, um dos empregados mais antigos. “Isto é como uma família da gastronomia e antes ainda era mais”, defende.

Paul Bocuse, o chef de maior renome da cidade, hoje com 89 anos, era um assíduo frequentador do mercado e quase todas as bancas têm uma fotografia com ele (o seu restaurante é o único com três estrelas Michelin em Lyon, há mais de 40 anos). Visitar os Halles, que desde 2006 se chamam Paul Bocuse em sua homenagem, é indispensável para perceber porque Lyon se auto-intitula a capital gastronómica de França.

“Temos muito orgulho nisso e fazemos para que assim seja, não só pela gastronomia, mas também pelos produtos únicos da região e pela sua história”, conta-nos Anne Vioernery, enquanto nos guia pelos corredores modernos e elegantes, entre pequenos grupos organizados de turistas. “No século XX, muitas mulheres da região envolvente vieram para a cidade trabalhar como cozinheiras nas casas de abastadas famílias burguesas. Mais tarde, algumas destas «mères» foram para a restauração”, conta. Em 1932, o restaurante de Mère Brazier (onde estagiou Paul Bocuse) tornou-se o primeiro estabelecimento dirigido por uma mulher a receber três estrelas Michelin, marcando um ponto de viragem.

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