Fugas - Viagens

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O salto quântico dos cruzeiros é um navio inteligente

E mesmo numa viagem de apresentação há famílias a bordo, com (as inevitáveis?) discussões entre mães e adolescentes.

- Eu não vou ao Mamma mia.

- Vais.

- Não, porque a essa hora tenho...

Confessamos que perdemos o contacto auditivo com mãe e filho, ingleses, que descem a escadaria à nossa frente. Ao musical Mamma Mia (há sempre um piscar de olho aos espectáculos ao estilo Broadway nos cruzeiros) iremos em poucas horas (uma surpresa total, como veremos) e é tanta a gente que enche o Royal Theatre, plateia e tribuna, que não conseguimos descortinar quem ganhou o braço-de-ferro, mãe ou filho; em relação a alternativas à música dos Abba, a oferta é tanta que não podemos sequer imaginar qual a que o jovem se refere. Se tal diversidade já é habitual em navios desta dimensão, no Quantum of the Seas o conceito é levado mais além; tanto que nos dá demasiado pano para mangas, que o (pouco) tempo a bordo obriga a que sejam necessariamente curtas.

E com tão pouco tempo mais se apreciam as virtudes “inteligentes” deste navio. Logo à chegada se revelam, para quem, como nós, fez previamente o check-in online: as longas filas no terminal que normalmente antecedem o embarque são substituídas por uma espécie de passadeira vermelha, onde um tablet lê os nossos dados e nos dá algo como uma via verde que apenas tem solavanco no controlo de segurança. Na prática, entre a chegada ao cais e a entrada no nosso camarote não passam mais de 15 minutos. E se tivéssemos querido a nossa mala já nos estaria esperando.

Como a levamos connosco, só nos falta a chave (cartão) que encontramos na porta do camarote com uma novidade: uma pulseira que, essa sim, é uma verdadeira via verde no navio, pois ao aproximá-la dos leitores temos acesso ao camarote e aos terminais de pagamento, por exemplo, o que significa andar pelo navio de mãos livres.

Ou quase. Um telemóvel é um acessório valioso neste navio — e quem diz telemóvel diz smartphone, quem diz navio diz smartship. Uma aplicação, Royal iQ, que funciona sem ser necessário adquirir o pacote de Internet (que tem velocidades equivalentes às de terra — não confirmamos a velocidade porque o sistema ainda não está operacional), permite gerir tudo o que está relacionado com o nosso cruzeiro — desde reservas de restaurantes, marcações no spa, excursões em terra —, e apresenta diariamente a nossa agenda, com lembretes, para que nada nos escape.

Os coktails dos robôs

Se fosse num cruzeiro a sério, o momento em que subimos 91 metros no céu para ter uma panorâmica do navio e das redondezas estaria agendado na nossa aplicação; como é especial, uma fila controla o acesso à cápsula de vidro que é outra das novidades em alto-mar. A ideia, dizem-nos, é oferecer aos passageiros uma vista total do navio — são 360 graus de panorâmica para eternizar em imagens, com a ressalva de que ao nascer e pôr do sol as subidas são pagas à parte.

Nós subimos quando o sol já está a declinar no horizonte, mas ainda não atinge as proporções mágicas da desaparição final; e ao invés da imagem de oceano a rodear-nos por todos os lados, ainda temos Southampton a nossos pés  — não perdemos tempo e esta é a nossa experiência inaugural no novo gigante dos mares, algumas horas antes de soltarmos amarras. Uns ainda sobem a bordo, outros já invadem os bares do convés à beira da piscina (mesmo abaixo do NorthStar), onde dois grandes ecrãs, um em cada margem, passam imagens de paragens paradisíacas (e serão palco de cinema ao ar livre).

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