Apesar deste frenesim natalício, Rotemburgo tem muito mais para oferecer do que presentes de Natal, pelo que é possível ficar encantado com a cidade, mesmo sem pôr os pés no mercado ou na loja mais conhecida do centro histórico. Na realidade, o facto de ser um local encantador salvou-a, durante a II Guerra Mundial, como nos contou o “guarda nocturno” durante uma visita guiada à cidade, à noite, que não deve mesmo perder (a versão em inglês começa às 20h e custa sete euros por adulto).
Ao longo de quase uma hora, o guia, com uma longa capa e chapéu negros, carregando uma lança e uma candeia, leva os turistas num passeio pelas ruas vazias de gente de Rotemburgo, contando a história da cidade. Com uma entoação e um texto dignos de um belo actor, o guarda nocturno transporta-nos até aos tempos medievais, quando a cidade florescia e enriquecia, à custa dos têxteis e da agricultura, ao mesmo tempo em que era um dos principais pontos de passagem no centro da Europa, tanto mais que ali se cruzavam vários caminhos de São Tiago (esse é também o nome da catedral da cidade, St. Jakobskirche, no original). Depois, deixando as ruas e casas apalaçadas para trás, leva-nos para lá da muralha, contando como a Guerra dos 30 anos (1618-48), que opôs católicos e protestantes, marcou o início do declínio da cidade protestante, depois de esta ter sido ocupada, durante cerca de três meses, por um exército católico. “A cidade jurou resistir e fê-lo... Durante dois dias. Ao terceiro dia, um dos nossos guardas decidiu entrar na torre onde se guardava a pólvora... Com uma tocha ligada! Podem imaginar o que aconteceu a seguir”, conta o guarda nocturno, com a sua entoação exagerada, arrancando gargalhadas aos ouvintes atentos, reunidos à sua volta.
A esta visita indesejada está ainda associada uma lenda (e não mais do que isso, garantem-nos), que conta que, desafiado a beber o equivalente a três litros de cerveja de um só trago, para evitar a destruição total do burgo, o presidente da câmara, Georg Nusch, conseguiu fazê-lo. A lenda do “Meistertrunk” ainda hoje é celebrada na localidade situada na Estrada Romântica alemã. “Há alguns anos houve um turista canadiano que quase conseguiu cumprir a façanha, mas não acabou bem. Teve de ser levado para o hospital com envenenamento alcoólico”, conta Daniel Weber, o guia que nos acompanhou durante uma visita diurna à cidade.
Depois da invasão, em 1631, Rotemburgo entraria numa longa fase de declínio e esquecimento e os vários guias que nos acompanham em redor dos edifícios medievais do centro histórico contam todos o mesmo: “Ela foi preservada pela pobreza.” Ou seja, sem dinheiro para modernizar as suas casas ou para construir novos edifícios com os estilos mais modernos, os habitantes deixaram a cidade manter-se como era. Rotemburgo só sairia deste longo sono quando, no século XIX, chegaram os primeiros artistas e pintores. Encantados com as casas apaineladas, com os edifícios majestosos ou com recantos como aquele de onde se vêem duas torres da muralha, o Plönlein (e que inspirou os cenários para o filme Pinóquio, de Walt Disney, de 1940), os pintores espalharam a imagem da cidade pelo mundo, atraindo gente de todo o lado.