Fugas - Viagens

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Áustria: Quando o Natal é rei na rainha dos corações

Estes três são, na verdade, mundos diferentes: passear por esta cidade não é o mesmo que errar pela Estíria, muito menos ainda pela Áustria, à sombra da qual Graz, a cidade mais oriental do país, pouco ou nada representa, mesmo ocupando um lugar especial no coração daqueles que a olham como a “Rainha dos Corações”. Num determinado momento, Graz impele o viajante a uma escapada, a descobrir os picos altos e brancos, onde a neve tudo cobre, como se de repente o turista ficasse limitado a um bolo de noiva, para o qual apenas pode olhar sem o tocar. É nesse momento, quando os raios do sol se estilhaçam em diferentes direcções, que o viajante se sente afectado por um turbilhão de emoções, um mero figurante de uma qualquer peça teatral no manto branco que se estende para um lado e para o outro. Ao fim da tarde, inebriado ainda por esta beleza efémera, talvez seja tempo de voltar ao centro histórico, de caminhar em silêncio ao lado das crianças que, com os seus gorros coloridos que as protegem do frio, continuam a acreditar no Pai Natal e se identificam com os bonitos - mas ao mesmo tempo simples - mercados de Natal de Graz, iluminados pelas luzes débeis, acreditando que não há nenhuma razão para desconfiar das tradições que os adultos teimam em perpetuar, mesmo quando movidos por outros interesses mais ou menos materialistas.

É Natal, brilham as estrelas; mesmo no céu de Graz, onde faltam muitas, elas não deixam de cintilar, como manifestação silenciosa da cidade que se cobre de emoções, mesmo que elas derivem do sabor forte da comida húngara ou dos seus vinhos ainda mais fortes. Estes são, na verdade, mais dois outros motivos, entre tantos outros, para se passear por esta antiga capital imperial, situada entre os países germânicos, os Balcãs e o Mediterrâneo, qual encruzilhada que não se cansa de rasgar identidades, aberta ao gótico, ao renascimento ou ao barroco, da mesma forma que abre as portas ao Jugendstil, a versão alemã do modernismo. Por isso, quando se deixa Graz, parece que se viu o mundo, global, como se nada faltasse, muito para lá do mundo idealizado, de dimensões reduzidas, que se espera ver numa cidade que permanece entregue aos seus segredos e é, ela própria, um segredo bem guardado. Graz, qual rainha, teimosamente vai conquistando corações, como se ainda vivesse num período distante, nessa época em que os Habsburgos ditavam as suas leis, mas, ao mesmo tempo, decidida a mostrar a sua vocação cada vez mais modernista, como alguém que, vivendo orgulhosa do passado, se enquadra no presente pensando no futuro.

Recuo até ao livro que agora termino, na janela não há sinal de gotículas, a cidade espraia-se sem interferências da chuva ou das trevas, ainda mais encantadora ao crepúsculo, esperando os meninos que celebram o Natal. E a frase continua a martelar o meu cérebro cansado. “Eu tenho tempo e fico à espera.”

Porque é Inverno.

Guia prático

COMO IR

Não é propriamente barato chegar a Graz de avião mas essa é seguramente a alternativa mais cómoda. Desde Lisboa, com uma escala em Munique, a Lufthansa, em conjunto com a Austrian Airlines (na verdade os voos entre as duas cidades ou mesmo desde Frankfurt são operados pela Lufthansa CityLine e pela Tyrolean Airways), proporciona uma tarifa a rondar os 400 euros para um bilhete de ida e volta. Por cerca de metade do preço, pode chegar a Viena, com a Iberia (escala em Madrid), e desde a capital austríaca, de comboio (17 euros), até Graz, após pouco mais de três horas de viagem. O aeroporto de Talerhof (um campo de concentração durante a I Guerra Mundial que abrigou, entre 1914 e 1917, mais de vinte mil prisioneiros) está situado a apenas oito quilómetros do centro de Graz, um curto trajecto que pode ser feito de autocarro (4 euros).

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