O oásis de palmeiras fica para lá da lagoa e a grande atracção desta é ser muito concorrida por outro tipo de turistas, com asas e belos chilreares: congrega dezenas de espécies de aves migratórias, que podem ser mais bem admiradas e compreendidas graças a um passeio pedagógico com placas informativas. Depois, bem, depois o reino é das areias douradas.
As dunas são majestosas, uma paisagem fascinante e que se prolonga, ponta da ilha adentro, graças ao grande escultor que é o deserto do Sara, de onde os balsâmicos ventos alísios sopram areias e aqui as guardam. As dunas separam Maspalomas do outro centro turístico, Playa del Inglés, que na verdade é pura continuação. Mas as dunas também fazem mais e não são apenas cenário para embelezar a praia: a sua protecção e garantia de intimidades moldam não só o clima mas também o turismo da ilha.
Se no princípio começamos por famílias, é ir continuando até às partes com casalinhos mais chegados, zonas nudistas oficiais e territórios gays (realce-se que a comunidade gay representa uma grande fatia do turismo da ilha e é marcante especialmente por toda a zona da Playa del Inglés). A área de dunas móveis (ao sabor do vento…) é imensa, com uns 5km de comprimento e 3km de largura, e elevadíssima: as dunas parecem autênticas montanhas de areia do Sara (há inclusive passeios de camelo). Ainda havemos de cá voltar para dar azo a uma das nossas manias, a de cruzar desertos no meio do mar para depois mergulhar nas ondas.
Estas longas praias de Maspalomas não são, claro, as únicas que chamam visitantes. O Turismo oficial conta precisamente 128 praias na ilha, não só como estas, de finas areias douradas, mas também de areia escura e vulcânica ou de seixos — incluindo mesmo algumas artificiais em pontos da costa, por vezes escapardíssima, onde a hotelaria e o interesse turístico assim o pediram.
E, claro está, tendo metade da ilha como Reserva da Biosfera mundial, não é só esta reserva das dunas que lhe marca a natureza. Muito pelo contrário. Por entre as suas paisagens vulcânicas, quase desérticas, a ilha reparte-se por vários parques e zonas protegidas naturais, sobe a picos milenares (como o Pico del Pozo de las Nieves, a 1949m), desce a profundos barrancos, surpreende-nos com zonas áridas que o engenho vai humanizando com barragens e sistemas de condutas de água, agricultura onde é possível, passa por vales e florestas subtropicais.
É numa viagem de jipe, cruzando o coração da ilha, que vamos descobrindo todos (ou pelo menos uma boa amostra) dos contrastes da Gran Canaria. Cabelos ao vento (os que podem), serpenteamos por terras vulcânicas. Vamos por caminhos da Paisagem Protegida de Fataga e é todo um espectáculo natural, montanha acima para pararmos em cada miradouro e admirar as paisagens até ao mar, cruzarmos barrancos e adivinharmos pontos de verde e cor em abruptos cenários rochosos, vislumbrarmos pequenos oásis de palmeiras ou zonas de cultivo e bosques súbitos.
Nós seguimos de jipe mas ainda trocamos “bons dias” com alguns caminhantes: ao longo dos séculos, a sobrevivência dependeu de bons e seguros caminhos e agora são aproveitados pelos turistas para longas caminhadas pelos mistérios canários (se quiser aproveitar, há até festival anual de percursos pedestres — a próxima edição é em Novembro deste ano).