Fugas - Viagens

  • João Ferreira Oliveira
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Bristol, a cidade que coloca os quadros nas paredes das ruas

Bristol é uma aristocrata excêntrica que coloca os quadros do lado de fora da parede.

 

Nos passos de Pessoa

Há como fugir a tudo isto, naturalmente, a Banksy e à street art, mas não compensa, sobretudo para viajantes como eu, como (quase) todos nós, turistas curiosos por natureza. Bristol é assim. Bristol é mais Bristol agora que é assim. Os responsáveis e os comerciantes locais sabem disso e tiram natural proveito. Mapearam todas as obras, pelo menos as mais importantes, criaram festivais, desenharam diferentes tipos de tours organizados, fazem workshops, nas ruas e nos mercados vendem-se réplicas famosas a meia dúzia de euros para colocar nas paredes de casa. Em 2013, durante uma residência artística de um mês em Nova Iorque, Banksy montou uma barraquinha à venda com obras originais a 50 euros que valiam milhares, pelo sim pelo não compro meia dúzia, não vá ele ter repetido a gracinha.

Enquanto o golpe de sorte não se confirma opto por um tour grátis que vejo anunciado numa das paredes do hostel.

- Queria confirmar se há passeio amanhã - pergunto por mensagem, já depois das dez da noite. A resposta não tarda.

- Tomorrow, 11am outside the Marriott Hotel on College Green. See you tomorrow. James Bogie.

Amanhã é sábado. Hoje é sábado, nove da manhã, o hostel fica junto ao rio, na área do antigo porto, hoje em dia uma zona recheada de galerias, restaurantes, bares e museus, aproveito por isso para explorar a área enquanto a hora não chega. Entre os museus está o M Shed, espaço moderno, onde não só é possível ter uma das melhores panorâmicas sobre esta parte da cidade, mas também ficar a conhecer a sua história, desde da sua participação activa como ponto de partida e de chegada de escravos, até aos seus anos dourados na construção naval e aviação. A The Bristol Aeroplane Company, fundada em 1910, foi uma das primeiras e mais importantes companhias britânicas. Em frente ao museu quatro estruturas em ferro, enormes, que serviam para descarregar e carregar os barcos lembram o seu perfil industrial. Um pouco mais à frente, ainda no porto, o SS Great Britain, construído em 1843, o maior navio da época, é actualmente um dos maiores pontos de romaria.

A água, a força e a magia da água, sempre presente. Culpa do rio Avon, cujos braços se estendem quase até ao centro da cidade. O mesmo Avon que liga ao Canal de Bristol, braço de mar que, por sua vez, se encarrega de fazer a ligação ao Atlântico.

Fala-se em Atlântico e encontra-se logo Fernando Pessoa. Passo mais uma ponte em direcção a sul, à Tobacco Factory, já fora da zona central, uma associação e uma área com forte pulsar cultural e eis que dou de caras com um grafitti do escritor português. A cara é Pessoa, as palavras são de Ricardo Reis. Em bom inglês.

“Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive”.

- He’s big - diz-me o homem do café junto ao qual está pintado o mural, perante a minha insistência em tentar meter a realidade numa imagem. 

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