Fugas - Viagens

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Bristol, a cidade que coloca os quadros nas paredes das ruas

Por João Ferreira Oliveira

Terra de natal de Banksy, capital da 'street art', Bristol é mais do que um colorido museu a céu aberto. É também a Capital Verde da Europa 2015. Uma cidade cosmopolita, com personalidade e ideal para ser explorada a pé. Ou num autocarro turístico. Sim, num autocarro turístico...

Banksy, Banksy, Banksy, Banksy, Banksy, cinco vezes Banksy, seis, sete, mil vezes Banksy. Banksy nas paredes, Banksy nas galerias, Banksy no cinema, Banksy em Nova Iorque, Banksy nos Simpsons... Tanto Banksy já cansa, protestam alguns. De uma década para a outra, apaixonados e menos apaixonados pela arte, parecem conhecer de cor o seu traço, se bem que ninguém lhe conheça a cara. A polícia prende quem pinta paredes (pelo menos prendia), os holofotes cegam a criatividade, a ambos Bansky tem fugido com mestria. A sua biografia são as suas obras. Bristol o seu primeiro mural de trabalho.

- Às vezes esqueço-me de que temos obras como estas na cidade. Passo aqui todos os dias e nunca tinha tirado uma foto. Agora vi-o fotografar e tive vontade de fazer o mesmo – diz-me uma senhora, entre os sessenta e os setenta anos, iPhone na mão, cultura na ponta da língua. - Mais vale aproveitar antes que alguém apague.

- Ainda apagam?

- Agora menos, mas de vez em quando ainda acontece.

Este graffiti (Well Hung Lover) não é fácil ser apagado. Se bem que tenha umas marcas azuis que não foram feitas pelo autor. É da autoria de Banksy e um dos mais famosos. Fica numa parede de um edifício da Frogmore Street, mas foi pensado para ser visto da Park Street. O mais certo é que o leitor não saiba, nem queira saber onde fica a Park Street, nem isso interessa por agora, pois acabará por lá passar, afinal trata-se de uma das artérias principais, que liga o centro ao bairro de Clifton, a zona alta, nobre e verde da cidade. E com as melhores vistas. Aqui e agora a vista é outra. Um homem e uma mulher estão à janela. O homem olha em frente, à procura de alguém. Não consegue ver o que nós vemos. Por nós entenda-se eu, a senhora que tira a fotografia, os cerca de 500 mil habitantes da cidade e mais cerca de meio de milhão de turistas que por aqui passam todos os anos. E o que todos nós vemos é outro homem da parte de fora da janela, nu, com uma mão no parapeito e outra nos genitais, cara de pânico e corpo de amante. Na rua ao lado, para onde olha o marido traído, fica uma clínica especializada em problemas sexuais. É isto Banksy. Um (eterno) provocador, ele que é já considerado um veterano nestas andanças, um movimento normalmente associado aos mais novos. Terá nascido em 1974/1975.

- Gosta? – pergunto.

- Adoro. Em 2009, ele fez uma exposição no Bristol Museum, que fica ali em cima. Foi a primeira e acho que a única grande exposição que ele realizou numa galeria. Foi tudo feito em segredo e foi um sucesso. O meu neto também já anda agarrado às latas, mas está a começar, coitadinho.

Nem sempre foi assim. No final da década de noventa, início do século XX, as autoridades locais não eram propriamente adeptas dos jovens que pintavam as paredes da cidade. Vandalismo, gritavam. Outros havia que, não sabendo o valor das criações que tinham na parede dos seus edifícios, davam uma demão ou de a lixívia para purificar as paredes e o ambiente. Uma espécie de jogo que durou muitos anos. O que vem a seguir já está escrito. Banksy tornou-se famoso, quase um mito, com ele cresceram e desenvolveram-se várias gerações de artistas locais, as autoridades e a população habituaram-se a respeitar os grafittis e, hoje, mais do que vandalizar, temem é que estes sejam roubados. Sim, um pouco por todo o mundo há quem já tenha roubado obras de Banksy. Roubar uma obra destas significa, em muitos casos, levar um bom pedaço de parede, pedaço que mais tarde pode vir a render qualquer coisa como um milhão de euros em leilões de coleccionadores de arte. Algumas obras valem mais do que as próprias casas. - É um privilégio que a nossa cidade seja uma espécie de tela ao ar livre - conclui Elizabeth. - Como a Rainha!

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