Fugas - Viagens

  • João Ferreira Oliveira
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Bristol, a cidade que coloca os quadros nas paredes das ruas

- Mais cinco minutos e saímos - diz-me o motorista.?

- Sorry?!?

- Mais cinco minutos e saímos para o passeio.?

É Dezembro, já o disse, era Dezembro, estava um frio inglês e pensei why not? Nem sequer pensei, na verdade, apenas fui incapaz de dizer que não ao homem, paguei as 13 libras e lá fui para o piso de cima, que era como estar na rua, mas com mantinha incluída. Os tais cinco minutos e algumas pessoas depois lá seguimos viagem.

Uma viagem de cerca de 90 minutos, com vinte pontos de interesse, do centro à Clifton Bridge, ponte suspensa sobre o rio Avon, passando por The Downs, o pulmão da cidade. Um imenso manto de natureza silenciosa habitada por mansões vitorianas e por dezenas e dezenas de britânicos a correr, à chuva, atrás de uma bola. Como se tivessem inventado o jogo nessa tarde e tivessem a escrever a História. Um paraíso para quem gosta de natureza, o postal perfeito para qualquer jogador amador.

- É um campeonato amador, de fim-de-semana, com mais de 50 equipas, sendo que tem a particularidade de os jogos serem todos efectuados ao mesmo tempo – diz o guia. Não se esqueça de que inventamos o futebol.

Não esquecemos. Mas o que as autoridades locais não querem mesmo que os turistas esqueçam é precisamente esta serena e saudável veia que atravessa a cidade, não lhe tivesse sido atribuído o título de Capital Verde da Europa 2015. Um título que em 2016 será ostentado por Ljubljana e para o qual Cascais, Lisboa e Porto estão na corrida em 2017. Os dados divulgados aquando da decisão — que teve lugar precisamente em Dezembro, em Copenhaga, na Dinanarca — mostram que tudo isto não foi obra do acaso nem apenas truque para aparecer na fotografia. O melhor dos dois mundos — o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável parece impossível de atingir para o resto do mundo —, mas eles tentam. Vejam-se alguns exemplos: possui o menor indicador de emissões de CO2 per capita entre as grandes cidades do Reino Unido, mesmo assim pretende reduzir os números em 40% até 2020 e em 80% até 2050; a eficiência doméstica em termos energéticos melhor cerca de 25% na última década; quase um quinto dos habitantes vai a pé para o trabalho: cerca de 90% da população vive a 300 metros de um jardim ou da água; possui oito reservas naturais e mais de 400 parques… E por aqui poderíamos continuar durante mais algumas linhas.

É também por aqui que fico, em The Downs, mesmo não sendo a minha paragem, e por onde caminho durante horas à procura de mais um cliché, o pôr do sol na Clifton Suspension Bridge, porventura o maior ex-líbris da cidade. Uma ponte com mais de 170 anos sobre o rio Avon, em pleno Avon Gorge, desfiladeiro com cerca de 1,5 quilómetros de comprimento. Lá em baixo, dois homens fazem escalada, enquanto cá em cima, nos braços da mãe, uma criança tenta que o pai responda aos seus acenos, ignorando que a sua cidade não só é a capital da street art e Capital Verde da Europa, mas também por várias vezes considerada a cidade com mais qualidade de vida no Reino Unido. Uma cidade que, ainda por cima, tem cor e vida própria, algo que nem sempre as cidades com mais qualidade de vida têm.

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