A natureza e a história
E que melhor medida para o tempo do que um geoparque, que nas suas rugas pétreas conta a história da Terra?, de continentes perdidos e de supercontinentes, de oceanos passados e actuais? Por isso, num sábado a rebentar de sol e de frio q.b. aventuramo-nos na experiência do Geopark de Terras de Cavaleiros (GTC), recém-chegado (Setembro de 2014) à Rede Europeia e à Rede Global de Geoparks da UNESCO, não só pelo óbvio património geológico, mas por tudo o que este congrega: a paisagem, a natureza, história e a cultura. Afinal, a implantação de um geoparque tem na sua génese o desenvolvimento — sustentável, e esta não é uma questão menor, uma vez que inclui, entre outros, uma forte vertente de educação ambiental — de territórios com património geológico relevante, e a investigação, valorização e promoção de outros aspectos naturais e culturais, como se lê na declaração da Rede Europeia de Geoparques. É isso que autarquia de Macedo de Cavaleiros promove sob a marca GTC e com os seus 42 geossítios inventariados; é um pouco disso que entrevemos nesta experiência — mesmo não tendo sido completa, temos contacto com a geologia e a natureza (e como não, se estão intimamente ligadas?) e de caminho fazemos incursões com a cultura, às vezes de forma inesperada, e a história. E começamos por um pouco de história porque este nome, Terra de Cavaleiros — que é o mesmo que dizer Macedo de Cavaleiros, o concelho que é na sua totalidade abrangido pelo geoparque —, conjura tempos longínquos e gestas heróicas: na verdade, é uma alusão aos tempos medievais em que neste território se cruzavam ordens militares e religiosas e nobres corajosos, o mais notável entre eles Martim Gonçalves de Macedo, salvador de dinastias ao ajudar, na Batalha de Aljubarrota, o Mestre de Avis, futuro D. João I, a iludir a morte. Pela história avançamos, então, embalados pela natureza.
Porque a natureza doce e primeva destas terras está no meio de nós — ou melhor, nós estamos no meio dela — e aqui a albufeira do Azibo funciona quase como um umbigo, é inescapável. E poucos o imaginariam quando a barragem foi concluída em 1982, para abastecer o concelho; mas menos de duas décadas depois foi criada a Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo (PPAA), testemunho da força da natureza que se impôs em seu redor, não só criando um cenário de beleza irredutível mas tornando-se habitat de fauna e flora singulares.
Nós começamos a manhã a subir, depois de uma primeira hora que nos fala dos caprichos climáticos desta zona: de Mirandela a Macedo de Cavaleiros passamos de névoa cerrada e húmida, prenúncio de um dia triste, para um sol descarado, testemunho de um dia Inverno-do-nosso-contentamento. Subimos até aos 819 metros onde se ergue o santuário da Nossa Senhora do Campo e no horizonte é a albufeira do Azibo que nos prende primeiro a atenção: lá está o espelho de águas de margens sinuosas que bordejam montes cobertos de arvoredo — cor parda, verde seco e fogachos de verde tenro, à espera do Inverno oficial. Déssemos nós a volta completa ao cabeço, onde terá havido uma ermida e terá passado um dos Caminhos de Santiago, teríamos 360 graus de vista panorâmica.