Fugas - Viagens

  • A arte de Robalo II
surpreendeu quem
se passeou nas imediações
do Jardim da Avenida
João Cruz, em Bragança
    A arte de Robalo II surpreendeu quem se passeou nas imediações do Jardim da Avenida João Cruz, em Bragança Miguel Nogueira
  • Miguel Nogueira
  • Miguel Nogueira
  • Miguel Nogueira
  • a Fraga
da Pegada
    a Fraga da Pegada Miguel Nogueira
  • Miguel Nogueira
  • Na Fraga
da Pegada
    Na Fraga da Pegada Miguel Nogueira

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Trás-os-Montes

E Entrudo chocalheiro é por estas paragens também tempo de Festival do Grelo; não temos um festival, mas iremos provar (e aprovar) tarte de grelo, cortesia do restaurante Moagem João do Padre. A nossa iniciação em sobremesas inusitadas que não iria ficar por aqui — outra refeição, desta feita temática, com alheiras, há-de entrar nesses terrenos: e se não é novidade, para nós foi a primeira vez em confronto com um gelado de alheira e logo em Mirandela, no garfo de ouro Flor do Sal.

Voltamos à geologia, a caminho do Gnaisse da Lagoa, para atravessar o Monte de Morais, o ponto principal da cadeia montanhosa do Maciço de Morais que é o ponto central destes territórios geológico que valeu a criação do GTC. Na verdade, o maciço de Morais é o que os geólogos chamam de “umbigo do mundo”, testemunho da colisão de dois antigos continentes, Laurússia e Gondwana, com um oceano, Rheic, um dos poucos locais do mundo onde tal é visível — e é quase impossível não falar de uma viagem ao centro da Terra, e uma Terra onde ainda nem sequer os dinossauros tinham caminhado. Atravessamos, assim, uma paisagem na confluência de Terra e oceano, terra muito vermelha (que reflecte o solo rico em metais pesados e pobre em matéria orgânica), onde as árvores, muitas oliveiras, mas também sobreiros e azinheiros, se apresentam quase raquíticas, mas onde florescem espécies endémicas, entre elas orquídeas: para utilização agrícola, o terreno é inútil, contrastando com a fertilidade dos vales que o rodeiam, como santuário botânico é singular.

No Gnaisse da Lagoa, outro geossítio, somos confrontados com rochas (gnaisses) que vieram do continente mais distante, Laurússia-Báltica e se exibem como milhões de olhos a fixar-nos. É a ilusão criada pelos cristais de feldspato, alongados e claros, combinados com mica e outros minerais, resultado da pressão a que a rocha foi submetida ao longo de milhões de anos. Hoje, os afloramentos rochosos estão dispostos ao lado de cascatas da Ribeira de Vale de Moinhos, ao longo da qual pastam cabras em parcelas muradas — cenário bucólico total.

Depois da obstinação geológica, a vontade humana que o tempo tornou um capricho: entre olivais, a fachada, isolada, de uma igreja. É a Igreja da Senhora do Monte, dizem-nos, medieval. A frontaria está virada para o pôr do sol que brinca às escondidas com as oliveiras; além desta, não sobra muito da pequena igreja. A estranheza da aparição é explicada: daqui terá havido a povoação original de Morais, e essa é uma história que os restos de telhas e cerâmicas encontrados nos terrenos circundantes contam. Mas estas são histórias subterrâneas.

Deixamos o GTC para um vislumbre de histórias visíveis, com outra experiência que o Smart Travel promoveu. Desta vez com a Ordem dos Cavaleiros de Malta, que em breve terá direito a uma rota própria por Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Vimioso. Nós ficamo-nos por Malta, uma “ilha” na serra de Bornes. Diz-se que por aqui passaram os Templários e testemunho disso seria o sarcófago no exterior da igreja matriz — tal não está confirmado e o que este ostenta, sim, é a cruz da Ordem de Malta. Confirmada também a existência de construção anterior, românica, e de uma lápide pré-cristã dedicada ao deus Aerno. Procuramos a guardadora das chaves da igreja, sem sucesso; logo não vemos as tábuas quinhentistas que esta guarda. Ficamos pelo exterior, com o pequeno púlpito de pedra trabalhada ao lado do adro coberto (quatro colunas e tecto de madeira) — a porta principal é lateral.

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