Ainda há-de chegar o painel informativo que vai contextualizar este local, que é um dos geossítios do GTC — esse é um dos projectos em concretização, completar a informação turística, uma vez que essa é também uma vertente do geoparque, o geoturismo — que anda de mãos dadas com a geoeducação e a geoconservação. Se já houvesse dir-nos-ia que este miradouro é um local privilegiado para desmontar a fisionomia do relevo do GTC e do Nordeste transmontano: se a paisagem vale por si à margem de qualquer explicação, não prejudica conseguir descortinar as serras da Nogueira e de Bornes, a norte e a sul, erguidas por movimentos sísmicos com epicentro na Falha da Vilariça, a serra do Mogadouro como um maciço a fechar o horizonte, entre estes os vales fluviais como condutas — e não esquecer a albufeira do Azibo e o Monte de Morais, uma porção à parte característica da Meseta Ibérica, a origem de tudo aqui, uma espécie de umbigo do mundo (já lá iremos).
Um mar de prata
Depois da vista panorâmica, a introdução à albufeira do Azibo pela praia fluvial da Ribeira — e o primeiro placard do GTC, com um manual de práticas de boa conduta. Estamos, então, na PPAA (desde 1999), proteger a fauna e a flora é um imperativo, mesmo se estamos numa das 7 Maravilhas de Portugal na categoria de praias fluviais — o que significa que no Verão o café e esplanada estão abertos e as diversões náuticas agitam as águas agora tranquilas mas mantendo as demarcações, com bóias azuis, do espaço de lazer aquático, como uma piscina. Por aqui passa a ciclovia do Azibo e é um dos pontos de observação de aves — hoje os binóculos passam de mão em mão e assistimos a alguns voos rasantes e coreografias fugazes. Mergulhões de crista, patos reais?, não há especialistas entre nós, todos os palpites são possíveis e com os reflexos do sol na água, fazendo um mar de prata, é ainda mais difícil a identificação.
Não largamos as margens da albufeira do Azibo, contornando-a um pouco para chegarmos à outra praia fluvial, a da Fraga da Pegada. Aqui, o GTC já se apresenta em painéis da Rota Geológica que podem também ser lidos com a aplicação para telemóveis do parque através de códigos QR. Temos uma primeira introdução ao fenómeno geológico que torna esta zona, em torno do Maciço de Morais, única no mundo, local de encontro de dois antigos continentes e um oceano desaparecido. E, antes de perseguirmos as pegadas, tempo para um avistamento imprevisto — desta vez é uma garça que se dá a ver. “Foi uma dádiva, a albufeira”, diz uma das guias do GTC, “demorou pouco tempo a encher e criou-se um santuário de aves”.
Mas, então, cá estamos junto do metavulcanito da Fraga da Pegada, um dos geossítios já intervencionados (apenas sete dos 42) — painéis montados, condições de acessibilidade e protecção do local. São 540 milhões de anos que se contam no GTC, 540 milhões de anos que começam com o desmembramento de um supercontinente e a abertura de um oceano, Rheic, e o início do Ciclo Varisco, que é o processo geológico que haveria de levar à formação de cadeias montanhosas. Estes metavulcanitos têm cerca de 430 milhões de anos e passaram por um metamorfismo que as diferencia, por exemplo, das rochas vulcânicas que formaram os arquipélagos dos Açores ou da Madeira. Depois da formação destes metavulcanitos, novamente a Terra se haveria de constituir num outro supercontinente, a Pangeia, de onde haveriam de surgir os continentes actuais. Mas por enquanto ficamos com este bloco de rocha protegido por cerca alta de madeira onde outros valores, além dos geológicos, se levantam — neste caso, o outro valor é a arqueologia: este é um sítio de interesse municipal por ter um pedomorfo — uma pegada incrustada na pedra que terá cerca de seis mil anos — e outras gravuras, como cruzes e outros motivos religiosos que fazem crer que estes rochedos eram um santuário. Certo é que no século XIX serviu como ponto de demarcação entre os concelhos de Bragança e de Macedo de Cavaleiros, este ainda a dar os primeiros passos.