Fugas - Viagens

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Plzen, Capital Europeia da Cultura: Uma cerveja para começar e a lista de eventos, sff

A Urquell Pilsner cola-se a Plzen como uma lapa a um rochedo mas há, para os detractores de um mundo globalizado, algumas opções que, permitindo que se mergulhe na história da cerveja, se revelam menos turísticas, como a independente Purkmistr, que organiza um festival anual de cerveja, designado Slunce ve Skle, em Setembro, e gere o primeiro Beer Spa, no Pilsner Beer Spa and Welness Hotel, onde é possível tomar um banho de cerveja, misturado com outros ingredientes. 

O regresso de Lindauer

- Não é fácil estimar, por agora, o número de turistas que visitarão Plzen mas, se o acréscimo corresponder a 30%, não há razões para falar de insucesso. Em 2014, registou-se um aumento na ordem dos 10%, o que é positivo se tivermos em conta que, em 2013, recebemos qualquer coisa como 250 mil turistas. 

Vista desde a parte subterrânea, Plzen não se materializa, mas ajuda a compreender-se. Para lá de todas as caves, onde, neste ou naquele tempo, se guardou comida e bebida e, noutros, serviu de refúgio em períodos de guerra ou de turbulência, ergue-se uma cidade, sempre serena, por vezes envolta na depressão do cinzento do céu, aqui e acolá sacudida pelos raios de um sol que a torna ainda mais sedutora — e no Verão as temperaturas atingem facilmente os 35 graus.

Plzen também tem fama de ser tolerante: como a Grande Sinagoga, não há outra, na República Checa, em dimensão, que se compare; é a segunda maior da Europa e, no mundo, somente fica a perder para Jerusalém e Budapeste. Mandada construir em 1892 no estilo mourisco-românico por 2000 judeus que, por essa altura, viviam em Plzen, é um das mais proeminentes atracções da cidade, tanto por ser um lugar de culto, como por se tornar, com relativa frequência, palco de concertos e de exposições que abrangem pintura e fotografia, entre outros. Entre finais do século XIX e início do século XX, a cidade florescia, prosperavam a indústria e a arte, graças ao poder económico de muitos membros da comunidade judaica que convidaram arquitectos famosos, entre eles Adolf Loos, para se instalarem em Plzen. Nascido em Brno, Adolf Loos viveu dois períodos da sua vida em Plzen, onde actualmente se podem admirar alguns apartamentos cujos interiores foram repensados pelo checo. O arquitecto tinha os seus melhores clientes na área ocupada pela actual Rua Klatovska, famílias de ricos comerciantes judeus que habitavam, em finais do século XIX, aquela que era considerada a zona mais luxuosa da cidade — uma relação que contrasta com o facto de não raras vezes Adolf Loos ser apontado como anti-semita, um rótulo estranho quando muitos dos seus amigos, assistentes e estudantes, bem como duas das suas quatro mulheres, eram judeus.

Se Mons, na Bélgica, abre hoje o programa oficial, Plzen começou a mostrar-se ao mundo como capital europeia da cultura há uma semana — depois de cinco anos de preparação —, dividindo-se, como a sua congénere belga, em quatro temas, um deles focado no Trânsito e nas Minorias. Uma decisão que não resulta apenas do facto de Plzen dispor, ainda há bem pouco tempo, de cinco sinagogas, mas pela permanente necessidade de discutir as relações com as minorias, vivendo próximas ou distantes, na perspectiva de que Plzen é uma cidade situada num eixo importante da Europa, logo dependente, economicamente, da circulação e do estabelecimento de outros povos. Como não podia deixar de ser, Plzen presta a sua homenagem a Gottfried Lindauer, artista checo (mais tarde naturalizado neozelandês) que é filho da cidade (na altura parte do Império Austro-Húngaro) e famoso pelos seus retratos. Nascido Bohumír, traduziu mais tarde, alegadamente para melhor se implantar no mercado, o seu nome para alemão e, para escapar à incorporação no exército austríaco, embarcou, em 1879, para a Nova Zelândia, onde se destacou a pintar expressões de importantes chefes maori. Parte desse trabalho, cedido pela National Gallery de Auckland, pode agora ser visto, pela primeira vez, em Plzen — e na Europa —, englobado no tema Trânsito e Minorias.

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