Um conjunto de traves de madeira sobe do solo e serve de suporte a centenas de tábuas, umas na sua cor original, outras pintadas de tons avermelhados, dispostas de forma aleatória, como uma espécie de cobertura. Só então reparo, sobre o passeio, nas letras desenhadas a negro sobre um fundo branco – “cities like open air museums, The Passenger by Arne Quinze”. A instalação, com um custo total de 400 mil euros, foi inaugurada oficialmente no dia 2 de Dezembro e, supostamente, deveria permanecer na Rue de Nimy até 2019. Mas na noite de Natal, agentes da polícia, passando pelo local numa simples missão de rotina, ouviram um ruído estranho, a que se seguiu, pouco depois, o colapso parcial da obra do artista conceptual flamengo, 43 anos, famoso pelos seus trabalhos invulgares e polémicos, como Uchronia: a message from the future (Nevada, 2006), Cityscape e The Sequence (Bruxelas, 2007 e 2008), Traveller (Munique, 2008), The Visitor (Beirute, 2009) e, entre outros, Red Beacon (Shanghai, 2010). Aparentemente, a queda terá resultado de um defeito num dos pilares de apoio, provocando uma reacção em cadeia. De imediato, procedeu-se à reparação dos estragos mas os ruídos persistiam, motivando queixas da população residente e, uns dias mais tarde, registou-se um segundo colapso daquela que também já era conhecida como gigantesca floresta de fósforos, o que levou a polícia a fechar aquela artéria, uma das mais movimentadas do centro histórico de Mons.
Uma contrariedade para a organização de Mons-2015 — precisamente a um mês da abertura oficial do programa — que, sem tempo para solucionar o problema, optou por remover a instalação, uma situação inédita na vida de Arne Quinze, que já produziu mais de 30 trabalhos um pouco por todo o mundo. “Não tenho palavras: é como se tivesse perdido um filho”, admitiu Arne Quinze à imprensa local, ao passo que Yves Vasseur, curador das celebrações da capital cultural, se manifestou optimista, desdramatizando o contratempo: “Mons 2015 consiste em 300 projectos. Ainda pode ser um sucesso com os restantes 299.”
De Van Gogh a Verlaine
- Mons? Nunca ouvi falar!
Johanna Kuijt e, como ela, muitos holandeses — bem como flamengos — terão esta resposta na ponta da língua quando se fala na cidade belga. A explicação é simples: para uns e outros, a urbe da região da Valónia é conhecida por Bergen. Uns e outros — e um pouco por todo o lado — talvez desconheçam, de igual forma, que Vincent van Gogh viveu durante dois anos, entre 1878 e 1880, em Borinage (região industrial de extracção de carvão, a sudoeste de Mons, actualmente inoperacional) e em Mons, onde colocou um ponto final na sua actividade como pastor para de dedicar — durante dez anos, até à sua morte, em 1890 — à vida de artista. Orgulhosa do passado do pintor holandês na província de Hainaut, Mons presta-lhe tributo com uma exposição entre 25 de Janeiro e 17 de Maio em que poderão ser apreciados 70 quadros e desenhos provenientes de diferentes colecções internacionais e algumas cartas originais escritas por Van Gogh em Borinage e em Bruxelas, manuscritos raras vezes apresentados ao público.