Fugas - Viagens

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Mons, Capital Europeia da Cultura: Pronta para o mundo

Os indefectíveis seguidores da vida e obra do artista têm ainda outro motivo forte para visitar Mons: a curta distância da cidade, em Cuesmes (autocarro n.º 1 parte da estação de caminhos-de-ferro e em menos de dez minutos chega à praça principal daquela localidade), encontra-se a casa onde viveu Vincent van Gogh entre Agosto de 1879 e Outubro de 1880, em ruínas no final da década de 1970 mas alvo de restauro e aberta ao público desde 2007 como memória viva do que foi o homem antes de se tornar uma figura célebre e mundialmente conhecida.  Se a casa, novamente alvo de restauro e com reabertura prevista para Fevereiro, não for, por qualquer motivo, ao encontro das suas ambições, nada melhor do que conciliar a visita com um passeio pedestre ou de bicicleta pelos lugares que evocam a vida e o trabalho do pintor, pelo meio de uma paisagem repleta de serenidade.

Mons, cidade das artes, não esquece os seus filhos adoptivos e entre eles, além de Vincent van Gogh, encontra-se Marguerite Yourcenar, a escritora belga que mais tarde (em 1947) acabaria por se tornar cidadã norte-americana. Quase 30 anos após a sua morte, a cidade presta homenagem à autora de, entre outros, O Labirinto do Mundo, uma trilogia auto-biográfica que não esquece as raízes da sua mãe (o pai era originário do Norte de França), nascida na província de Hainaut, com uma exposição (e um livro) intitulada Marguerite Yourcenar. Du Hainaut au Labyrinthe du Monde, a decorrer, até 29 de Março, no hall do Palácio Provincial — e, como no caso de Vincent van Gogh, também estarão disponíveis, até ao último dia da mostra, excursões aos lugares que inspiraram a escritora na sua trilogia familiar.

Um dos mais talentosos e populares poetas franceses, Paul Verlaine (1844-1896) está também intimamente associado à cidade de Mons. Casado com Mathilde Mauté, experimentou, pouco depois, uma relação escandalosa e turbulenta com o também poeta Arthur Rimbaud (1854-1891), sobre quem haveria de disparar, num hotel de Bruxelas, dois tiros que o atingiram no pulso. Condenado a dois anos de prisão, Paul Verlaine começou por cumprir a pena na capital belga mas dois meses mais tarde foi transferido para a cidade da Valónia, onde, além de se ter convertido ao Cristianismo, escreveu algumas das suas obras-primas — e é sobre estes dois anos (mas não só) de detenção em Mons que se foca a exposição (entre 17 de Outubro e 24 de Janeiro de 2016, na BAM, Beaux-Arts Mons) Verlaine, Cela 252, Turbulência Poética, com uma exibição de cartas, fotografias e manuscritos originais, pinturas, esculturas e documentos oficiais.

Os anjos de Mons

O lugar do primeiro e do último — assim é definida Mons, manchada de sangue durante a I Guerra Mundial, com toda a sua ressonância mítica e real. A cidade foi palco da primeira morte de um inglês (John Parr) e do último (George Ellison) — na verdade o último a morrer durante o conflito foi um canadiano (George Price), também em Mons. Se esta é a parte que entronca na realidade, a Lenda dos Anjos de Mons integra-se no mundo mítico, contando a história da infame noite de 23 de Agosto de 1914, quando os ingleses se viram na iminência do cerco alemão, perante a marcha avassaladora de dois regimentos já às portas da cidade. À meia-noite em ponto, reza a lenda, um grupo de anjos armado como arqueiros desceu dos céus e deteve o avanço das tropas germânicas, salvando os ingleses de uma possível aniquilação e, ao mesmo tempo, permitindo-lhes uma retirada em segurança. Para que os tristes e sangrentos acontecimentos não se percam na memória das memórias, o Mons Memorial Museum convida todos os visitantes para uma exposição, com início na Primavera, que traça o destino de homens e mulheres que foram testemunhas da turbulência vivida na Europa e dos soldados e do seu quotidiano, durante a I e a II Guerra Mundiais.

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