Espalhados por aqui e acolá, multiplicam-se os monumentos, magnificentes, como as igrejas de San Bartolomé, de San Agustín, a de San Blás, com a sua elegante fachada, ou a da Madre de Dios. Os efeitos do terramoto de Lisboa, a 1 de Novembro de 1755, também se fizeram sentir em Almagro, provocando a morte de duas crianças e a destruição da igreja de San Bartolomé, na época situada nos actuais jardins da Plaza Mayor, bem como danos noutros edifícios. Ainda hoje, todos os anos, a cidade recorda a data e agradece a protecção à sua santa padroeira, Nuestra Señora de las Nieves, cuja imagem enfeita o altar banhado de dourados da igreja da Madre de Dios.
O século XIX marca um período de declínio numa cidade identificada com a opulência mas, mesmo já sem a força de antanho, os locais nunca deixaram de ter os olhos postos na modernidade – a Plaza de Toros foi construída em 1845, um quartel de cavalaria em 1863 e um teatro e um casino no ano seguinte, numa urbe já dotada de telégrafo (1858), caminho-de-ferro (1860) e que não teve de esperar muitos anos pela instalação da luz eléctrica (1897), dez anos após serem derrubadas as muralhas e as portas de Almagro.
Bem próximos da igreja Madre de Dios estão os antigos armazéns da família Fugger ou a antiga universidade renascentista, cuja fundação se deve a Frey Fernando Fernández de Córdova y Mendoza, cavaleiro da Ordem de Calatrava e uma das figuras mais importantes do século XVI. A cidade vai-se descobrindo, sem pressas, escondendo atrás das suas portas impressionantes exemplares de um período de ostentação, como o Convento de la Asunción de Calatrava, mandado erguer, há quase 500 anos, para servir como hospital e, mais tarde, convertido em mosteiro; ou o de Santa Catalina, da Ordem Franciscana, ou, ainda, o da Encarnación, construído em finais do século XVI e com um admirável escudo dos Condes de Valdeparaiso.
O sol não tarda a pôr-se e, logo depois, as luzes acendem-se sobre a Plaza Mayor, onde julgo escutar Estrella Morente. Tengo miedo del encuentro, con el pasado que vuelve, a enfrentarse con mi vida; tengo miedo de las noches que, pobladas de recuerdos, encadenan mi soñar, pero el viajero que huye, tarde o temprano detiene su andar.
Volver.
GUIA PRÁTICO
Quando ir
Almagro, beneficiando de um clima temperado e quente, com uma temperatura média ao longo do ano a rondar os 15 graus, pode ser visitada em qualquer altura. O mês mais frio é, por norma, Janeiro, e o mais quente Julho. No Inverno, quando os termómetros podem baixar drasticamente, a precipitação ocorre com frequência, ao contrário do que acontece no Verão (em Julho a temperatura ronda, em média, os 26 graus).
Como ir
Ciudad Real, a cerca de 30 quilómetros de Almagro, teve, até há bem pouco tempo, um aeroporto, para muitos considerado como um símbolo da modernidade do país, com um custo total de mil milhões de euros. Três anos após a abertura, em 2009, a cidade tinha nas mãos um elefante branco, um aeroporto que, contrariamente aos planos iniciais, estava longe de escoar o tráfego de Barajas, em Madrid, a pouco mais de 200 quilómetros, ou de servir como ponte para os destinos mais turísticos da província de Andaluzia, graças ao transporte ferroviário. No total, são 28 mil m2, a área ocupada por um terminal por onde deviam passar, todos os anos, em média, cinco milhões de passageiros, números que tornam ainda mais fantasmagórico um lugar que assume contornos de um fantasma. Para os portugueses, a melhor opção para visitar Almagro passa pelo transporte terrestre: de Badajoz, utilizando a N-430, são pouco mais de 300 quilómetros até Ciudad Real e, daqui, em 20 minutos, chegará ao destino final. Para quem continuar a preferir o avião como meio de transporte privilegiado, o melhor é voar até Madrid e, uma vez na capital, apanhar um comboio na Estação de Atocha que o deixará em Ciudad Real ao fim de 50 minutos. Entre Ciudad Real e Alamagro há várias ligações por dia, de autocarro, um trajecto que se cumpre em apenas 30 minutos.