Fugas - Viagens

  • Rafael Polónia, bem acompanhado, em Laos
    Rafael Polónia, bem acompanhado, em Laos
  • Carla Mota, no Senegal
    Carla Mota, no Senegal
  • Rafael Polónia, Catedral Vank, Isfahan, Irão, com outros viajantes
    Rafael Polónia, Catedral Vank, Isfahan, Irão, com outros viajantes
  • Rafael Polónia, em Garmeh, no Irão, com uma viajante.
    Rafael Polónia, em Garmeh, no Irão, com uma viajante.
  • Rafael Polónia, um chá no deserto (Jordânia)
    Rafael Polónia, um chá no deserto (Jordânia)
  • Rafael Polónia
    Rafael Polónia

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De viajantes para viajantes

Porém, estas são situações que fazem parte das viagens e mesmo com queixas os viajantes acabam por compreender. Aliás, depois são estas as peripécias que mais recordam: não o final de cada percurso mas o caminho até lá. 

Se não há, a maior parte das vezes, conforto convencional nestas viagens, a autenticidade está (quase) toda lá, porque a ideia não é ir olhar de fora para dentro mas deixar-se imbuir pelo quotidiano local, envolvendo-se com as comunidades, tradições e cultura. Esta é uma questão-chave: é praticamente comum às agências deste segmento o aviso nos seus sites sobre todas as vicissitudes das viagens — as previstas e as possíveis (algumas, como a Papa-Léguas, têm a indicação do nível de dificuldade e de conforto de cada roteiro). Assim como a indicação da ligação ao turismo social e sustentável, cultivando a aproximação ligação às comunidades. “É uma forma de o dinheiro ficar aí”, resume Rafael Polónia.

Ao longo dos anos, estas agências têm vindo a evoluir. Sem deixar a matriz e filosofia originais, alargam o seu âmbito, alargam a sua oferta. Se os líderes viajantes são algo recentes neste universo, guias especializados sempre fizeram parte deste cenário, fosse para actividades tão específicas como trekking ou montanhismo, como até para fotografia — aliás, para fotógrafos mais ou menos aventureiros, há uma agência especializada, a Fotoadrenalina; no entanto, algumas das agências organizam viagens sem líder, apenas com guias locais, aproximando-se nesse aspecto às agências mais tradicionais. No entanto, os grupos mantêm-se sempre pequenos e esta é uma característica destas viagens. Na busca pela diferenciação, a Land.Escape de Rafael Polónia vai lançar mão da sua ligação ao mundo artístico para criar experiências especiais. Neste primeiro ano, a agência vai funcionar consigo como único líder — passará as rédeas de uma viagem no final do ano — mas para 2016 já estão a ser preparadas viagens especializadas com músicos e fotógrafos. “A ideia é convidar um artista para viagens duas vezes por ano e que depois este crie um objecto artístico inspirado pelo seu olhar sobre o destino.”

Há três anos, uma agência já bem estabelecida no mercado nacional em formato tradicional também decidiu criar um diferenciador na sua oferta. Não porque as ofertas da Pinto Lopes Viagens fossem das mais convencionais — em termos de destinos sempre gostou de dar a conhecer novos mundos aos portugueses, ou não fosse também esta agência, inaugurada oficialmente em 1994, o produto da sede de viagens do fundador, Bismarck Pinto Lopes, que em 1973 organizou a primeira viagem “para amigos” e que, exceptuando o ano de 1974, não mais parou de o fazer (e ainda hoje continua a acompanhar as viagens para destinos que não conhece).

Foi uma bola de neve, diz Freddy Castro, um dos administradores, e nos anos de 1980 vários autocarros circularam pela Europa nestas “viagens de amigos”, antes de se introduzirem os transportes aéreos”. Tem a convicção, por exemplo, de que os autocarros da Pinto Lopes são os únicos portugueses a chegarem ao Cabo Norte, numa viagem de dois mil quilómetros a partir de Oslo. “Tem a ver com o carácter inovador e diferente” que sempre guiou a agência: “Chegar a locais onde as agências portuguesas ainda não tinham chegado”. Madagáscar, Etiópia, Salta (Argentina), a China do Shangri-La, Birmânia, Honduras (“creio que ainda somos os únicos”), Cazaquistão, Uzbequistão (“agora batidos”), enumera; “ainda hoje”, adianta, “somos dos poucos que temos viagens abertas para Austrália e Nova Zelândia”. Que costumam esgotar, diz, ainda que o preço seja pouco amigável. “Mas o nosso conceito é incluir tudo o que há para incluir. O cliente depois não terá muitas mais despesas”, refere.

Contudo, também na Pinto Lopes se sentiu a necessidade de fazer algo mais do que vender uma viagem ao cliente — esse algo mais também era uma experiência e aqui a opção foi transformar personalidades conhecidas em guias de viagens. Surgiram as “Viagens com autores”, sendo os “autores” a “apresentar o projecto do destino”, explica Freddy Castro, de acordo com o seu conhecimento pessoal, e, claro, a acompanhar, todas as visitas. Se no início houve uma coincidência entre estes “autores” com escritores — José Luís Peixoto, Gonçalo Cadilhe e Raquel Ochoa —, e estes com cenários dos seus livros, “permitindo aos viajantes verem as obras materializarem-se , a ganharem vida”, o leque de guias foi entretanto alargado, passando a incluir representantes de outras áreas, como o maestro Rui Massena e oschefs Hélio Loureiro e Henrique Sá Pessoa e o jornalista-escritor José Rodrigues dos Santos.

Já em 2015, a agência voltou a inovar. “Viagens com Arte e História” vem acentuar o carácter cultural da agência — “não temos destinos de praia”, resume Freddy Castro —, proporcionando “algo ainda mais específico, mais detalhado”. Com especialistas em história da arte, estudos orientais, arqueologia, arquitectura, egiptologia, Descobrimentos, as novas viagens vão de Istambul ao Sudão, do Porto à Índia, de Cracóvia ao Egipto e Israel na senda da viagem de Eça de Queiroz por estas paragens para assistir à abertura do canal do Suez, oferecendo um olhar distinto sobre os destinos. Sempre com a garantia das comodidades das tradicionais viagens de grupo.

Com mais ou menos luxos, o mundo das viagens não se esgota nos pacotes dos operadores turísticos. Mas quase sempre é necessário ter um espírito aventureiro e aberto a imprevisto para poder desfrutar dos locais mais remotos, exóticos e intocados do planeta. Ou, então, ter a carteira (ainda) mais recheada para aí chegar com tratamento VIP.

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