Fugas - Viagens

  • A partida do
comboio foi
assinalada
com pompa e
circunstância,
com direito
a coro de
música
clássica. Miguel Pires
    A partida do comboio foi assinalada com pompa e circunstância, com direito a coro de música clássica. Miguel Pires
  • Chiavenna,
uma cidade
ideal “para
um fim-desemana
curto ou
prolongado,
quer se goste
de desporto,
natureza ou
história”
    Chiavenna, uma cidade ideal “para um fim-desemana curto ou prolongado, quer se goste de desporto, natureza ou história” DR
  • Valtellina,
um dos
quatro vales
que fazem
de cortina
para o centro
da Europa
— o nosso
percurso vai
atravessando
aldeias e
vilas antigas
rodeadas
de prados e
vinhas.
    Valtellina, um dos quatro vales que fazem de cortina para o centro da Europa — o nosso percurso vai atravessando aldeias e vilas antigas rodeadas de prados e vinhas. DR
  • Forme Bitto nella casera
    Forme Bitto nella casera DR
  • O Berlina
Express
pode não
ter o mesmo
charme do
slow train que
nos trouxe
de Milão
mas permite
apreciar
melhor a
paisagem.
    O Berlina Express pode não ter o mesmo charme do slow train que nos trouxe de Milão mas permite apreciar melhor a paisagem. DR
  • Triacca-La
Gatta, no sopé
da montanha,
às portas
de Tirano
    Triacca-La Gatta, no sopé da montanha, às portas de Tirano DR

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No comboio ascendente entre Valtellina e Valposchiavo

Perto de Sondrio, a capital da província, com pouco mais de vinte mil habitantes, dá-se um episódio insólito: o nosso slow train ultrapassa o intercidades local, perante a gargalhada da comitiva. Por esta altura começam a aparecer os primeiros campos de vinhas em socalcos. Não têm a espectacularidade de um vale do Douro, mas não deixam de constituir um belo quadro.

Tirano é a ultima paragem em Itália e onde acaba a viagem no comboio de época. Amanhã mudamos para o moderno Bernina Express, mas, entretanto, para não perdermos o hábito, já temos à espera um daqueles comboios de rodas para um city tour. Com menos encanto, mas também com menos solavancos, percorremos o pequeno município tendo como cenário os terraços de vinhas nas encostas que o circundam. A imponente basílica destaca-se entre o casario e ao contorná-la entramos no centro histórico, com paragem no recém-restaurado Palácio Salis (século XVI), cujas salas albergam preciosos frescos e um conjunto de quadros e objectos de época. Como é comum em Itália, também aqui se tropeça num pequeno palácio a cada esquina, com alguns ainda habitados e a passarem de geração em geração nas mesmas famílias.

 

Os vinhos Nebiollo

Num desses edificados, próximo da sede do município, fica a Rivetti&Lauro, uma das muitas vinícolas da região que produzem sobretudo tintos à base da casta Nebbiolo. Mais ligeiros, com menos taninos e menos corpo do que os famosos e prestigiados Barolo e Barbaresco da região vizinha de Piemonte, os vinhos de Valtellina possuem uma qualidade média muito aceitável, tendo em conta o seu preço (em geral) acessível. Mas a grande revelação para a maioria dos presentes é mesmo o Bitto Storico, o queijo local que nos servem a acompanhar alguns dos vinhos da casa.

“Coloquem o queijo na boca e deixem os sabores evidenciarem-se ao derreter-se com o calor do corpo”, indica Virginio Cattaneo, dono do restaurante La Brace di Forcola (Sondrio) e membro do Consórcio de Salvaguarda do Bitto Storico. O sabor lácteo e o toque salgado com um ligeiro pico revela a componente principal de origem (leite de vaca) e um bom período de cura. O queijo foi raspado numa mandolina e as tiras finas e leves, como uma folha de papel, facilitam o exercício proposto por Cattaneo. Contudo, impressionante mesmo é o segundo exemplar com mais tempo de envelhecimento (é comum encontrar aluns Bito com 10 anos de cura) e uma percentagem de leite de cabra na sua composição. O sabor é naturalmente mais forte e aguçado. Puro umami!

Há ainda mais uma prova de vinhos num outro produtor local, a Casa Triacca-La Gatta, no sopé da montanha, ainda às portas de Tirano. Os Alpes cobertos de neve avistam-se ao longe mas a maior parte dos treze hectares de vinhas de Nebbiolo estão surpreendentemente a pouco mais de 300 metros de altura (só para se ter a noção do que significa, em Estremoz, no Alentejo, há vinhas a uma cota superior).

A imagem é bela e os terraços de vinhedos lembram de novo o Douro, não fossem os picos nevados e as caves instaladas num antigo convento do século XVI, com uma arquitectura exterior a lembrar que estamos mais próximos (culturalmente) da Baviera do que do mediterrâneo.

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