Aqui e acolá, grandes pedras de granito, o que explica a toponímia, em malaio, de Pulau Ubin, a Ilha de Granito (as pedreiras foram devolvidas à natureza), o primeiro dos meus dez destinos em Singapura; um longo passadiço assente também em pilares de madeira conduz até à rua mais movimentada da minúscula ilha, abraçada por um outro café ou restaurante e um grande número de lojas de aluguer de bicicletas, o meio de transporte eleito para me movimentar por estradas — a maior parte delas em terra batida — que não tardam a acolher-me num silêncio apenas perturbado pelo silvo de um pássaro, o restolhar de uma folha ou o murmúrio da água.
O trilho divide-se noutros e o ideal é pedalar com tempo para o tempo e sem um mapa, com a certeza de que, mais tarde ou mais cedo, descobrirá Chek Jawa Wetlands, 100 hectares ocupados por mangues, praias de areia fina e rochosas, lagoas de sargaço e uma floresta costeira, distintos ecossistemas que podem ser observados percorrendo, a pé, uma ponte que vai ziguezagueando por um quilómetro.
Com a mesma facilidade, encontrará Jejawi Tower, erguendo-se a uma altura de 20 metros (sete pisos) e de onde se obtém uma panorâmica da ilha, das copas das árvores — é ideal para observação de aves — e de Singapura recortando-se contra os céus; e, sem grande dificuldade, também não tardará a avistar javalis caminhando indolentemente, muitas das vezes à procura de comida deixada nas bicicletas estacionadas no parque que dá acesso ao Chek Jawa — não cometa a imprudência e também não os alimente.
Pulau Ubin é considerado o derradeiro kampong de Singapura, a única sobrevivente das aldeias, simbolizando um regresso ao passado, até à década de 1960, quando os prédios não ameaçavam tocar o céu. Por este território tão impregnado de silêncio, a vida assume ainda a sua forma primitiva, como um filme sem anúncio. Largo a minha bicicleta e fico a admirar as águas calmas, as casas flutuantes com os seus pequenos barcos ancorados, pescadores solitários de olhares tranquilos, talvez sentindo mais do que vendo.
- Muitos pescadores têm uma casa em Singapura mas preferem permanecer aqui, pescando marisco que lhes permite ganhar o dinheiro suficiente para viver e desfrutando, ao mesmo tempo, de uma existência calma. Aqui, no meio desta paz, sentem-se mais felizes, talvez porque a ilha lhes recorda o passado.
Eddie Koh lança um olhar ao filho que, com um ancinho na mão, esgravata a terra negra à procura de caranguejos. Estende-me uma cerveja e prossegue:
- Eu próprio vivi aqui durante um período, para fugir ao ritmo frenético da cidade. Agora venho apenas aos fins-de-semana. Mas nessa altura ia à pesca e acendia a fogueira para preparar as minhas refeições. Até podia ter ficado num chalé mas preferi instalar-me num parque de campismo – não há nada melhor. Este é um estilo de vida que as próximas gerações provavelmente não terão oportunidade de conhecer.
A criança chama a atenção do pai e deposita um caranguejo num balde. De quando em vez, lança pedras à água como se também ele vivesse uma existência feliz.