Fugas - Viagens

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Belize: La Isla Bonita

– Mais barato... porque a Madonna encareceu os preços. Agora faz-se fila para visitar “La Isla Bonita”. É uma loucura, mas dá muito dinheiro...

Convencido a não embarcar nos lustrosos San Pedro Jet Express, optei, ao invés, por navegar com os locais numa espartana lancha, à pinha de trabalhadores da tal ilha encantada dos amigos alemães. Enquanto não partia, e até para me proteger do fogo solar, adentrei-me no pequeno museu marítimo anexo ao terminal. A navegação de hora e picos permitiu-me depois absorver a miríade de cores do manto líquido translúcido e o olhar hipnótico da miúda à minha frente, de pé, amparada pelas pernas da mãe. Somei por derrotas o jogo do sério. Não roubei um sorriso que fosse àquela boneca cor de cacau. A lancha atracou, primeiro, no exclusivo Cayo Caulker, local eleito pelos abastados reformados norte-americanos, e, depois, em San Pedro, a capital do maior cayo belizenho. Existem vários cais de embarque, como braços gigantes a boiarem sobre as águas desmaiadas. Detenho-me com o cardume de raias que nadam por baixo do cais, como se tivesse desembarcado debaixo de água. Um delírio!

Os humores de São Pedro

A antiga vila piscatória ainda retém vestígios de um passado não muito distante. De entre a miríade de pequenos hotéis, enveredo pelo mais económico de entre a oferta pouco dada a viajantes com fundo nos bolsos. Depois das pernas e das pasteleiras, os carrinhos de golfe tornaram-se no meio de transporte da moda, uma praga que tende a alastrar-se. Casas de bonecas habitadas por humanos, restaurantes, lojinhas e mercadinhos na escala adequada ao território e uns quantos fregueses de passagem, por entre turistas e trabalhadores sazonais, é o que se pode encontrar nesta vila-capital incrustada numa massa de terra com 40 quilómetros de comprimento por 1,5 de largura. O interesse reside, por conseguinte, ao largo, ao alcance de um olhar e de várias braçadas: na segunda maior barreira de coral do mundo. Aqui a vida direcciona-se para Oriente, como uma doutrina.

O faz-tudo do pequeno hotel, José Luis, é produto da história recente de San Pedro. Convicto, este emigrante mexicano anuncia-se filho da terra, sustentado numa teoria histórica.

– Os primeiros habitantes desta ilha foram os maias, ainda antes da cultura pré-colombiana. E eu sou um deles, porque venho de Tixkokob, do Norte do Iucatão. Por isso, esta casa também é minha.

A proximidade com o recife e toda a exuberante envolvência levaram a uma rápida substituição da pesca pelo turismo, mais rentável. Dos treze mil habitantes de San Pedro, uma larga fatia são conterrâneos de José Luis, levando o castelhano a rivalizar com o inglês.

Mesmo ao virar da esquina, o cais para embarcações privadas e turísticas estava a ser reconstruído depois da passagem do furação Ernesto, que se formou em Cabo Verde e, depois de cruzar com fúria o Atlântico, atingiu esta costa já na pele de cordeiro. “Felizmente, transformou-se em tempestade tropical”, lembrou o canadiano Andro, de Calgary, ainda assim com robustez suficiente para causar estragos. Ambergris Caye é protegida da fúria ocasional do mar pelo imenso muro coralíneo, que é também a sua principal atracção turística. Mereceu, em 1996, a classificação de Património Mundial da UNESCO, para além de sete dos seus locais mais famosos terem sido reconhecidos como habitat protegido. De pigmentação escurecida e cabelo negro aos caracóis, “mas com sangue português, por via da mãe”, anotou, Andro perdeu-se de amores por San Pedro e, com a família, por ali ficou como guia de mergulho. Trauteava, em surdina.

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