Fugas - Viagens

  • Na ilha Koh Chang
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  • Em Trat
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  • Em Ban­gue­co­que
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  • Em Ban­gue­co­que, pad thai num res­tau­rante que é uma ins­ti­tui­ção na cidade, o Thip Samai
    Em Ban­gue­co­que, pad thai num res­tau­rante que é uma ins­ti­tui­ção na cidade, o Thip Samai

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A Tailândia como nunca a vimos, como sempre foi

Declinações da natureza

No meio da floresta tropical, sem o rei ou a família real à (nossa) vista, o edifício de dois andares quase não tem paredes ou portas. Tiramos o calçado antes de subirmos ao primeiro andar, o espaço “nobre”, digamos assim, em sinal de respeito, onde somos recebidos com rang jiud, um chá que aqui é bebido a toda a hora, quase como uma vacinação natural. Estamos na sede do Grupo de Ecoturismo Huai Raeng, onde a comunidade tem a sua vida presa umbilicalmente ao canal – à água, não fosse esta uma região fértil, onde se cruzam três ecossistemas aquáticos: de água doce, de água salobra e de água salgada. O canal é a auto-estrada destas paragens e navegamos nele para perceber como a natureza que nos rodeia tem um papel primordial no quotidiano destas populações.

O ar está húmido e pesado à medida que avançamos no canal a rasgar a densa floresta que se banha nele – e o sol é inclemente: mas temos guarda-chuvas para nos abrigarmos. Há mil e um ruídos que vêm da selva e um canto persistente que se distingue – é um pássaro que avisa da mudança da maré. Quando os franceses ocuparam Trat, tomando a província como um protectorado no final do século XIX (durante a Guerra da Indochina, os franceses voltaram a assediar Trat, sem sucesso), as árvores foram vistas como um tesouro, sobretudo as Khrai Yoi, a que chamaram Cruz – exemplares de raízes nodosas, mergulhadas na água e formando um ecossistema marinho à parte, abrigo de várias espécies. Aproximamo-nos das margens não pelos animais, mas pelas folhas de palmeiras, cada qual com a sua utilidade. Cho, o guia, vai cortando e explicando os vários níveis de desenvolvimento que equivalem, então, a diferentes utilizações: as de nível um, mais suaves, são usadas para fazer cigarros; as seguintes, flexíveis, embrulham arroz e sobremesas e têm no seu interior uma espécie de filamento que dá sabor; as de nível três são as mais tesas e servem para os telhados, por exemplo. O fruto desta árvores também é dissecado: uma mistura de pinha e ananás, muito grande, guarda em cada alvéolo uma porção gelatinosa esbranquiçada.

Cho é pescador, como quase todos são pescadores aqui – a pesca é de sobrevivência e quando sobra o mercado é o seu destino. Cada família tem a sua pequena represa nas margens onde os peixes e os camarões, se entram, já não saem; quando a corrente é forte, estendem-se redes. Na outra margem há um barco e um barqueiro que se aproximam de uma destas “armadilhas”, depois vem até ao nosso barco e mostra um “camarão-rei”: não é meigo, ataca o pescador e corta-o (a cauda abre e fecha como uma faca) – no mercado vale 200 bahts (mais ou menos cinco euros) por quilo. Estão na mesa do almoço, acompanhados de muitas outras iguarias.

Novamente na sede da comunidade, é a nossa vez de “trabalhar” numa tradição que esteve adormecida durante 50 anos. Mas durante a II Guerra Mundial, sem nada mais, era a rotina de todos os que trabalhavam e estudavam fora – todos os dias se fazia a marmita: não apenas a comida, como a “embalagem”, de folhas de palmeira, claro, como uma pequena bolsa que se pendura ao ombro.  P’ Pathee, uma das líderes da comunidade, lembra-se desses tempos e foi ela que teve a ideia de ressuscitar os betel quando o projecto da comunidade sustentável começou a ganhar forma. A comida já está preparada, em várias taças de madeira: arroz, peixe frito, ovos salgados (cor escura, depois de estarem em água salgada durante sete dias) e  ananás. Nós temos uma folha de palmeira, verde, onde servimos a nossa porção, que embrulhamos; o “complicado” vem depois, com nova folha e fios de palmeira, desta feita seca, que temos de entrelaçar até termos a bolsa, com colher de madeira pendurada. Tivemos bolsa e logo a seguir temos uma aula de cozinha, de khanom chak, uma sobremesa tradicional tailandesa, que, dizem, nunca sabe tão bem como aqui. Leva farinha, coco, leite de coco e açúcar, tudo misturado e embrulhado em folha de palmeira que é depois cozinhada em carvão – não conseguimos confirmar se cebola doce entra na receita, mas o sabor, não demasiado doce, desta pasta escura e textura de chiclete parece revelá-lo.

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