Saímos da cozinha, mas continuamos entre tachos para aprender a fazer sabonetes artesanais. Já deixamos de contar quantos mangostões comemos, estão por todo o lado na Tailândia, mas aqui vamos vê-los serem transformados em sabonetes – a sua pele, pelo menos (um projecto seleccionado como um dos mais criativos pela Autoridade do Turismo do país) – em forma de cana de bambu cortada a meio, o pormenor distintivo. Mangostão, mel, vitamina E (comprada) e aromas, mais a glicerina: tudo junto, é “bom para a cara”, dá “suavidade e mata bactérias”. Depois do sabonete, o óleo de coco, para protector solar, para fortalecer o cabelo. Um quilo de coco (30 frutos) para um litro de óleo, partindo do leite do coco (misturado aqui mesmo, o miolo com água – aqui o miolo é extraído manualmente, nos mercados há máquinas que o fazem), que é depois colocado em sacos plásticos onde se faz a separação – três ou quatro dias depois esta é total, os resíduos no fundo e o óleo puro no cimo.
Na ilha desintoxicamos
Perdemos o ferry e isso significa meia hora de espera no porto de Laem Ngop, pequena aldeia piscatória que parece adormecida a meio da tarde. O sol aperta e quase ninguém sai dos carros que seguem para a ilha, o que deixa as bancas de comida e souvenirs abandonadas. O bom é que ninguém nos pressiona para comprar nada, ao contrário de Banguecoque, onde, por exemplo, uma viagem de tuk-tuk tem incluída a passagem por determinadas lojas (se recusamos, temos de estar sempre alerta: a rede de cumplicidades na cidade é estreita e o objectivo é sempre o mesmo, levar os turistas a comprar ou a fazer algo – connosco cismaram que devíamos ir ver budas em vez de ao Grande Palácio, que estava “fechado para cerimónias”). Aqui, diante da ilha de Ko Chang, a calma é total.
Ao nosso penúltimo dia, somos, finalmente, insulares na Tailândia. Continuamos na província de Trat, em Ko Chang, a segunda maior ilha tailandesa (a maior do Parque Natural Mu Koh Chang, um arquipélago de 51 ilhas), mesmo atrás de Phuket, e a sua costa ocidental parece percorrer os mesmos trilhos turísticos, com resorts que se sucedem à beira-mar, contra um cenário feito de montanhas verdes. Nestas praias paramos apenas para ver o pôr do sol – que hoje não é particularmente especial – porque o nosso programa “verde” quer mostrar que a ilha não se faz só de areia e águas quentes.
Na verdade, esta ilha, que se chama “ilha do elefante” (pela sua forma, eles não são indígenas daqui), é um grande maciço verde, sua alma e coração, onde sobressaem alguns picos mais altos, mas sempre cobertos de vegetação. Falam-nos de rios e cascatas, mas esses terão de ficar para uma próxima vez.
Nunca nos afastamos muito da costa, mas sentimo-nos engolidos pela floresta no The Spa Koh Chang Resort. Estamos na costa oriental da ilha (e para aqui chegar tivemos de voltar ao ponto de partida, ao porto do ferry, no norte, para seguir pelo outro lado: a estrada de alcatrão não dá a volta ao sul da ilha), a menos explorada, habitada por pequenas comunidades piscatórias. Se a maré não estivesse baixa, teríamos água do canal a rodear-nos, ao invés de lama e charcos, quando mais uma vez nos estendemos para receber uma massagem tailandesa, num edifício de madeira, aberto entre a natureza – todo o resort está dissimulado (e em harmonia) entre as árvores altas e vegetação intensa.