Fugas - Viagens

  • Grande parte da costa atlântica marroquina são praias selvagens a transbordar de peixe e marisco
    Grande parte da costa atlântica marroquina são praias selvagens a transbordar de peixe e marisco Rute Barbedo
  • Uma das seis orações do dia, em mês de Ramadão
    Uma das seis orações do dia, em mês de Ramadão Rute Barbedo
  • A costa nas proximidades de Oualidia
    A costa nas proximidades de Oualidia Rute Barbedo
  • O concorrido mercado de peixe em Essaouira
    O concorrido mercado de peixe em Essaouira Rute Barbedo
  • Rute Barbedo
  • Parte da fortaleza portuguesa de El Jadida
    Parte da fortaleza portuguesa de El Jadida Rute Barbedo
  • Parte da fortaleza portuguesa de El Jadida
    Parte da fortaleza portuguesa de El Jadida Rute Barbedo
  • Rute Barbedo
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Teremos sempre Marrocos

O Verão começa aqui

Qualquer viagem em Marrocos – seja através do cinema, da realidade em si mesma ou dos sonhos que procuramos em azulejos e alguidares de barro – falará de (um) Mohammed. Nesta, ele usa um boné amarelo e guia-nos pela costa atlântica em dias de Ramadão (este ano, foi de 18 de Junho a 17 de Julho). Ao volante apresenta-se Hussein, sorriso farto e olhos carregados de calor. Um prazer, Hussein.

Com tanto Atlântico em Portugal, estamos ansiosos por conhecer o de Marrocos. De Casablanca (onde aterrámos) a El Jadida são 100 quilómetros rentes a ele; uma primeira aproximação. Ainda há horas de sol neste que é o dia mais longo do ano, o do solstício de Verão. No caminho, uma oração em árabe balouça no retrovisor, há um campo de futebol entre tabaibeiras, casas em adobe e pedras sobre os telhados a segurá-los do vento. As aparições mais frequentes são as da polícia marroquina, à entrada das localidades, no controlo dos viandantes. Vê-los actuar são boas curtas-metragens, sempre. Mas da janela também vislumbramos miúdos a cruzar a estrada com sacos às costas, aparecidos das colinas, vindos de uma imensidão de nadas.

Mohammed aponta para o rio Morbeia. Na margem esquerda, fica Azamor (“as oliveiras”, traduzido do árabe), com as suas casas em cal e murais cor de terra a pintar o rio. Queremos ficar aqui, porque vendem-se melões e melancias desconformes em bancas a transbordar de peso, as tâmaras são do tamanho da boca e lentamente vai cheirando a ifta – a primeira refeição, em dia de jejum, assim que o sol se põe. Da janela, vemos os doces árabes em pirâmides e as abelhas em hipnose. Há também peixe seco e homens suados. De pés na terra, Mohammed diz: “Esta é a cidade dos grandes pintores e escritores de Marrocos.” (Talvez para nos tirar os olhos dos vendedores mundanos.) Mas o que vemos nas ruelas da medina não são aguarelas enquadradas em arabescos, mas impressões de street art a exaltar o artesanato regional: os padrões de um tapete marroquino, cerâmicas a duas dimensões.

Hussein abre a porta da carrinha. Seguimos para a estrada 301, onde a linha de areia e algas prossegue longa, sem fim, sem pessoas. De vez em quando, surgem rapazes a vender mexilhão fresco à berma da estrada, ou uma imagem que nos faz acordar do ócio, como este anúncio da McDonald’s, “especial Ramadão”. A região entre El Jadida e Safi é ainda “pouco conhecida”, segundo o Turismo de Marrocos, que apresenta como principais atractivos os muitos quilómetros de praias em estado selvagem e “monumentos históricos importantes”, como o castelo de Safi (de arquitectura portuguesa, restaurado em 1963) e a fortaleza de El Jadida, de onde emerge uma grande torre com uma janela gótica que vigia a cidade.

Pois é El Jadida que nos aparece para lá das ondas de calor da estrada, com a Fortaleza de Mazagão – uma das 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo. Polícias de um lado, palmeiras dos dois. O equivalente às eleições autárquicas em Marrocos acontece em Setembro, por isso, há cartazes com os rostos dos candidatos. Diz Mohammed que também é por causa das eleições que está tudo em obras. (Herança ou semelhança com Portugal.)

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