Em Ceuta, encontram-se cristãos, muçulmanos, judeus e hindus. Tanto se pode prestar culto no Santuário de Nossa Senhora de África, cuja história remonta a 1421, altura em que o Infante D. Henrique decidiu enviar a imagem da santa a Ceuta, ordenando que a venerassem e construíssem um templo para a acolher — ou mesmo ir em peregrinação, a 13 de Junho, até à Ermida de Santo António —, como na Mesquita de Sidi Embarek, com o seu marabuto do século XVII, como, ainda, na Sinagoga de Bet El, construída nos anos 1970 e com os seus vitrais de tonalidades garridas, ou, finalmente, no bonito templo hindu, símbolo religioso de uma comunidade que vive em Ceuta desde o início da segunda metade do século passado.
As sombras dançantes das palmeiras insinuam-se ao longo do interior das muralhas da cidade; estas representam a evolução histórica de Ceuta, as múltiplas transformações sofridas na sua estrutura defensiva, mais notórias com a chegada dos portugueses e após a reconstrução levada a cabo na sequência do devastador temporal que, no século XVII, arrasou os muros, a despeito de algumas partes, muito próximas do Bastião dos Maiorquinos (perto do posto de turismo), procederem do traçado primitivo que remonta ao século X, do tempo de Abd al-Rahman III.
Quando o crepúsculo envolve a cidade, Ceuta parece ainda mais indolente mas não tarda, daí a instantes, a ser percorrida por um pulsar pleno de vida, homens e mulheres caminhando para cá e para lá, enquanto retiram prazer da brisa suave e dos cheiros que chegam do mar e se mostram indiferentes à beleza de alguns dos prédios mais magnificentes do centro urbano.
Na Calle Camoens com a Millán Astray, ergo os olhos para os plantar nas réplicas dos dragões originais que foram retirados durante a II República e que coroam a Casa dos Dragões, um edifício historicista de três andares, de finais do século XIX; numa esquina do Paseo del Revellín, projecta-se contra o céu cada vez mais alaranjado o Edifício Trujillo, em homenagem à família que o mandou erguer, um exemplo de arquitectura neobarroca de estilo historicista, tão comum em muitas das grandes avenidas de cidades espanholas.
Não muito longe, na Plaza de África, destaca-se o Palácio da Assemblea, uma construção que teve o seu início há pouco mais de cem anos e que foi inaugurada em 1927 pelos reis de Espanha, D. Afonso XIII e D. Vitória Eugénia, com um interior magnificente, a sua escadaria imperial, com cerâmicas de Talavera às quais não faltam um toque de inspiração português e com assinatura de Ruiz de Luna, bem como o Salão do Trono, de estilo francês.
Quando os céus se começam a tingir de vermelho, passo pela Casa dos Púlpitos, levantado em 1934/35 e com os seus elementos neoclássicos e barrocos, as suas varandas, elegantes e responsáveis pela designação. O mar está próximo, sente-se-lhe o cheiro, não muito distante recorta-se a silhueta do edifício da Autoridade Portuária, como um barco em terra firme, restaurado recentemente e tão singular com os seus beirais em relevo, a estrutura subindo nos céus como se de chaminés se tratasse.