A Madeira guarda lugares de uma beleza extraordinária. Surpreende-me sempre, mesmo o concelho onde cresci, São Vicente. Ainda há pouco o confirmei, com a Madeira Expedições: a ideia era explorar o Norte da ilha, num todo-o-terreno, com toda a mestria de guia de montanha. Nada me maravilhou tanto como o Folhadal (assim chamado pelo elevado número de folhados), a uns 700 metros de altitude, no meio da exuberante floresta, no vale de São Vicente.
Fizemos um troço da Levada Velha do Caramujo, desactivada há muito, pelo menos desde que foi construída a Levada do Norte. Entrámos acima do sítio das Ginjas, na freguesia de São Vicente, e caminhamos em direcção à Encumeada. Não nos cruzámos com vivalma. Aquela rota não é tão conhecida como outras, caso do Caldeirão Verde, do Rabaçal, das 25 Mil Fontes, da Levada do Rei. Os líquenes, nos taludes, nos troncos e nas rochas, testemunham a inexistência de poluição naquele lugar. Avistamos um enorme pombo-trocaz, espécie endémica deste ecossistema, considerado o grande semeador da laurissilva, floresta relíquia. Vimos árvores — barbusano, o loureiro, o til e o vinhático, o folhado, o pau-branco e o mocano — que mais pareciam monumentos. Como não fizemos o percurso completo, ainda tivemos tempo para fazer um pequeno troço da Levada dos Tornos, que atravessa grande parte da Ilha, levando água do Norte para o Sul. Mais uma razão para voltar. Há sempre mais razões para voltar.