Aguardamos os nove ritos de iniciação à transformação da consciência. No Espaço Ganesha, em Lisboa, há almofadas em círculo sobre uma manta inca. Dez mulheres e um homem trazem flores, pedras e cristais e dispõem-nos em forma de mandalas. Helena acende o pau-santo (que ficou em repouso na terra durante dez anos) para pôr o ar a fumar. “Não foi por acaso que nos reunimos hoje. Estes encontros já foram marcados na nossa alma”, afirma. E é à volta da roda xamânica que nos juntamos para descobrir um mundo novo ou, como diz a guia, “sentirmo-nos imortais”.
Aberto o espaço sagrado, “vamos convidar as forças a juntarem-se a nós”, com a concentração nos quatro elementos — água, fogo, terra e ar. “Ayaya!”, repete-se na sala. É a saudação. Jonas chora, Anabela parece estar a sentir algo bom dentro do corpo. Um a um, no centro da sala, de mãos ao peito, recebem a visita do “grande espírito”. Na mesa xamânica, há 13 pedras trabalhadas energeticamente. “Vamos primeiro ao condor, que nos dá uma visão ampla e nos permite voar”, inicia Helena Pereira.
Não vimos chegar o primeiro espírito, nem o segundo. Mas vemos — com os olhos, mesmo — que quem se deita no tapete à nossa frente tem dificuldade em acordar. Assim que regressam “à superfície”, é como se tivessem saído de uma sessão dupla de canabinóides, de sorriso estrelado no rosto. São cinco da tarde, há oito rituais cumpridos — o último foi o das estrelas — e um bocejo generalizado. Todos pedem para dormir, exaustos. Tornaram-se “pessoas prontas a curar a terra”, concretiza Helena.
O jejum e as antenas
“Por favor, trazer:
. Roupa confortável e quente;
. Objetos de higiene pessoal;
. Chinelos de quarto ou meias grossas (o calçado de exterior não é permitido dentro de casa);
. Calçado confortável de exterior;
. Temos bastantes tapetes de ioga, mas pode trazer o seu se assim o desejar;
. Bloco de notas e caneta.
Não trazer:
. Comida; substâncias intoxicantes de qualquer natureza.”
As recomendações partem da Quinta do Anjo, o lugar que nos acolhe em Porto Mendo para um retiro de jejum, acreditamos nós; detox, corrigem eles. São dois dias e meio de introdução à limpeza do corpo e da mente pela boca. Uma semana antes, há um trabalho de preparação, com a transição para uma alimentação vegetariana, orgânica, com muitos vegetais crus e fruta, e com 1,5 a dois litros de água por dia. Substâncias intoxicantes e estimulantes, como café, álcool, açúcar, alimentos processados e refinados, sal e tabaco não entram na lista.
Ana Gema, a organizadora do retiro, explica que, para uma maior eficácia, são precisos períodos de desintoxicação mais longos. Este é uma introdução. “Para limpar as toxinas de uma cidade, se calhar é preciso um detox uma vez por mês. Quem vive no campo, se comer biológico, talvez uma vez por ano.” Serão dois dias de sumos, chás e shots de erva de trigo, dieta crudívera e alcalina, ioga e meditação, workshops de nutrição e de leites vegan. O global é remover causas de doença, reequilibrar o organismo, aumentar a vitalidade, uma vez que a energia gasta no processo de digestão direcciona-se, no jejum, para a cura e a auto-regeneração do organismo.