Fugas - Viagens

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Liverpool: Na rota dos mais famosos scousers

À minha frente tenho agora o Beatles Story, museu cujas escadas de acesso vão engolindo dezenas de peregrinos da Beatlemania; mal a luz do dia se esvai, os bares da Albert Dock enchem-se de vida; mais tarde, quando a noite avança, as ruas em volta do Cavern Club, onde a banda actuou mais de 300 vezes, fervilham. Num e noutro lado, ninguém tem medo de expressar as suas emoções. Parece uma outra Inglaterra. Mas revestida com um carácter celta.

Imagine all the people
Living for today...

Um passado negro, um futuro brilhante

O sol doura com os seus raios alguns edifícios e reflecte-se, como uma língua, nas águas. São, algumas delas, construções magnificentes e testemunhas privilegiadas de um passado não menos grandioso.

Durante os séculos XVIII e XIX, Liverpool transformou-se na verdadeira porta da expansão do Império britânico e o seu porto adquiriu uma importância sem paralelo (por vezes superou Londres), conquistando o estatuto de centro do comércio marítimo mundial. Se, no início, os navios apenas tinham como destino a Irlanda e a Escócia, em meados do século XVI o negócio alargava-se já a Portugal, Espanha e França; finalmente, em pleno século XVIII, o trâfego ganhou outra dimensão com a conquista dos portos da América do Norte e da África Ocidental. A estes últimos, chegavam os navios carregados de artigos de algodão e de materiais, logo trocados por escravos comercializados nas Índias Ocidentais e na Virginia, importantes mercados de abastecimento de rum, açúcar, tabaco e algodão em bruto.

Mas, juntamente com as mercadorias, viajavam também, carregando sonhos, milhões de europeus dos países do norte, irlandeses (a família de Paul McCartney, vivendo sempre com grandes dificuldades, tem ascendência irlandesa) e escoceses que rapidamente transmitiram à cidade a sua influência celta, ainda hoje tão impregnada entre uma população que ascende a quase meio milhão de habitantes. Claramente, a comunidade irlandesa é a mais importante: milhões deles desembarcaram em Liverpool durante a grande fome, entre 1845 e 1849, produzindo o desenvolvimento de um sub-proletariado urbano em bairros pobres como Toxteth, Speke e Dingle (uma cidade situada na península homónima do condado de Kerry, no centro da Irlanda).

Neste último, na 9 Madryn Street, numa das mais de 400 casas da área conhecida como Welsh Streets (por terem nomes galeses) até 2005 destinadas a serem demolidas (entretanto foi criado um fundo de 14 milhões de libras para serem preservadas), nasceu e viveu durante um curto período da sua vida (uma infância com vários problemas de saúde, incluindo tuberculose) Richard Starkey, o futuro Ringo Starr. Da mesma forma, e embora tendo nascido na 12 Arnold Grove, em Wavertree, George Harisson (também com raízes irlandesas) mudou-se com a sua família para o 25 da Upton Green, em Speke, em 1950, quando tinha apenas sete anos.

A guerra e os blues

Já na primeira metade do século XIX, e pelo menos até 1930, mais de nove milhões de emigrantes — na sua grande maioria ingleses, escoceses e irlandeses mas igualmente suecos, noruegueses e judeus russos — partiram de Liverpool com destino ao Novo Mundo, também eles carregando a ilusão de uma vida que lhes oferecesse um pouco mais do que as provações com que se confrontavam no dia-a-dia.

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