Fugas - Viagens

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Liverpool: Na rota dos mais famosos scousers

Por Sousa Ribeiro

Seguindo os Beatles, entre os lugares e a música, numa cidade que nunca deixa de surpreender.

In Penny Lane there is a barber showing photographs
Of every head he’s had the pleasure to know
And all the people that come and go
Stop and say hello

George Martin, produtor dos Beatles, terá admitido que, a par de Strawberry Fields Forever, Penny Lane foi o melhor single (entre aqueles que produziu) alguma vez editado pela banda de Liverpool, num total de mais de duas centenas de letras escritas pela dupla Paul McCartney-John Lennon, um número astronómico quando comparado com as escassas referências à cidade que viu nascer os Fab Four. Uma e outra, Strawberry Fields Forever e Penny Lane, têm em comum essa singularidade, da mesma forma que constituem a expressão máxima de uma nostalgia que evoca lugares e um tempo perdido no tempo — logo gozam de uma existência.

Strawberry Field era um orfanato do Exército de Salvação (uma réplica do antigo portão vermelho em ferro ladeado por duas colunas onde os seguidores da Beatlemania gostam de gravar os seus nomes assinala o lugar) situado próximo da Menlove Avenue e onde John Lennon, tendo vivido a sua infância a curta distância, em Mendips, costumava acorrer para brincar com outras crianças. A letra foi escrita quando o cantor estava ocupado com a sua participação no filme How I Won The War e, alegadamente, foi inspirada num sentimento de saudade da casa que ainda hoje se pode visitar, um espaço humilde mas acolhedor tão bem preservado pela tia Mary “Mimi” Smith, encarregada da educação do pequeno a partir do momento em que a vida dos pais se tornou demasiado turbulenta (o pai, Alfred, desertou durante a II Guerra Mundial e a mãe, Júlia, viveu uma relação com outro homem durante o casamento antes de ser atropelada mortalmente por um polícia embriagado).

São muitos — entre um total de 600 mil por ano que visitam Liverpool à procura dos lugares ligados à história dos Beatles — aqueles que se posicionam, cruzando as pernas para imitarem uma pose de John Lennon, em frente à casa de Mendips, não muito distante daquela, bem mais pobre, no número 20 da Forthlin Road, para onde Paul McCartney se mudou quando tinha 13 anos, um ano antes de a mãe, vítima de embolismo, ter falecido (um facto em comum na vida dos dois que terá conduzido a um fortalecimento da relação).  

Alguns peregrinos lançam olhares curiosos, perscrutando aqui e ali os prédios baixos e as árvores que se recortam contra o céu cinzento, ao longo da Penny Lane, buscando alimento para as suas fantasias que, ao fim de algum tempo, mal descobrem que esses lugares (a popular barbearia descrita, Bioletti’s, é actualmente um salão de cabeleireiro unissexo rebaptizado Tony Slavin) e pessoas não são mais do que uma memória, resvalam para o mundo da frustração que por vezes dá lugar a comportamentos reprováveis — não raramente, as placas com a toponímia da rua (que é também um bairro e era, na década de 1960, um importante terminal de autocarros servindo diversas rotas) são roubadas ou danificadas com mensagens dos fãs dos Beatles.

Não fosse esse passado tão intimamente ligado ao percurso dos Beatles, a própria toponímia da rua mítica não seria, ela própria, mais do que uma memória, de tal forma as autoridades locais têm procurado esquecer uma época associada ao tráfico de escravos — James Penny foi, durante o século XVIII, um dos mais importantes comerciantes e um proeminente anti-abolicionista. 

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