Como pano de fundo, vista ainda do rio, a cidade antiga, com as silhuetas das suas catedrais. Liverpool é, à excepção de Londres, a única em Inglaterra que se orgulha de ter duas. Uma, a anglicana, neogótica, bem próxima de uma das mais antigas comunidades chinesas estabelecidas na Europa (não perca o elegante arco), é a maior do país e a quinta maior do mundo, o sino central é o terceiro a nível mundial, o campanário, com cem metros de altura, é o mais alto e o mais pesado do mundo e o órgão, com 9765 tubos, é também o maior do mundo operacional. A catedral, situada na Hope Street, é uma obra de Sir Giles Gilbert Scott, conhecido por criar as míticas cabinas telefónicas vermelhas, que teve o seu início em 1904 e apenas foi concluída em 1978.
A outra, metropolitana, professa o culto católico e revela um passado turbulento, marcado por constantes interrupções das obras — o projecto foi confiado a Sir Edwin Lutyens, a primeira pedra foi colocada em Junho de 1933 mas a declaraçãoo de guerra e, já no final desta, o aumento significativo dos custos levaram a diocese (estabelecida em 1850) a abandonar o plano de Lutyens (apenas a cripta é da sua autoria) e a promover um concurso internacional que foi ganho por Frederick Gibberd. Finalmente, a construção deste espaço circular com capacidade para 2300 pessoas teve início em 1962 e prolongou-se por cinco anos, sendo consagrada em Maio de 1967, dez anos antes de receber a visita da rainha e 15 antes de ter acolhido o Papa João Paulo II.
Estranhamente, ou talvez não, a catedral católica foi concebida por um arquitecto protestante e a sua homóloga anglicana por um católico. Mas esta singularidade não é mais do que o resultado da cultura de tolerância que se respira por força da multitude de origens que constitui uma das imagens de marca de uma metrópole onde se falam mais de 60 línguas.
Imagine there’s no countries (…)
And no religion too
Património Mundial da UNESCO desde Julho de 2004, a cidade é ainda mais admirável quando a sua equipa mais representativa joga em Anfield Road: camisolas, calcões e meias vermelhas, fazendo evocar Turning the Town Red, como cantava Elvis Costello, que cresceu em Liverpool. Quando a noite cai, são as jovens, em grupo, muito loiras e maquilhadas, quem assalta as ruas, rumando a um pub ou uma discoteca com uma sede que parece não caber neste mundo. Há mais de 40 anos, eram as suas mães quem tombava em síncope em frente do mais famoso quarteto do mundo.
Chego ao aeroporto, avisto um submarino amarelo e logo depois, já no interior, uma estátua de John Lennon. Os Beatles estão por todo o lado, omnipresentes. Above us, only the sky.
Guia prático
Como ir
A melhor alternativa para viajar entre Lisboa e Liverpool passa pela easyJet, que liga as duas cidades pelo menos duas vezes por semana com tarifas que, dependendo da antecedência com que reserva ou do período em que pretende viajar, rondam os 70 euros (bilhete de ida e volta). A mesma companhia aérea também estabelece ligações entre Faro e Lisboa, enquanto a Ryanair, embora sazonalmente, o faz a partir do Porto. O aeroporto internacional John Lennon (não deixe de reparar no slogan Above us, only the sky, retirado da letra de Imagine), rebaptizado em 2001 (21 anos após a morte do músico inglês), está situado numa das margens do estuário do rio Mersey, a pouco mais de dez quilómetros do centro da cidade.