Fugas - Viagens

  • Marco Duarte
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Paredes de Coura: Uma viagem por palacetes, com homens exilados e apaixonados

É possível ainda avistar – tal como escreveu Aquilino Ribeiro – “as pirâmides esbeltas da capela e a sineira, as duas casas apalaçadas, o canastro mais vasto do concelho – 27 metros de comprimento” (Arcas Encoiradas, 1962; p. 330). O maravilhoso pórtico joanino marca toda a fachada, e a capela, dedicada a Nossa Senhora do Amparo, apresenta uma exuberante e prolífica decoração a fazer lembrar o estilo rococó.

Apesar de toda a beleza deste tradicional solar minhoto, é de lamentar o avançado estado de degradação em que se encontra. Contudo, há quem não deixe de sublinhar que o ar abandonado lhe confere uma maior aura de mistério. Gostos não se discutem.   

Mas há mais solares em Paredes de Coura. E um dos mais característicos é o Palacete Miguel Dantas, mandado construir pelo homem que deixou o seu nome na história de Paredes de Coura. Miguel Dantas Pereira, destacado político nacional nos finais do período monárquico, tendo sido deputado e par do Reino, foi promotor de várias obras de relevo em território courense, como os Paços do Concelho, o hospital e a cadeia.

O palacete, situado no lugar de Mantelães (freguesia de Formariz), segue a linha das chamadas “casas grandes” brasileiras, num estilo marcadamente neoclássico. Possui uma capela anexa, jardim com repuxo, um bonito ‘mirante’ e uma torre de feições medievais cuja conclusão nunca aconteceu. Pelo que nos disseram, é hoje muito solicitada para servir de cenário a fotos de casamento.

A solenidade do edifício esconde histórias que se cruzam com a História de Portugal. Já há pouco falámos de Bernardino Machado. Convém agora explicar a sua relação com Paredes de Coura. O antigo presidente da República casou-se em 1882 com Elzira Dantas, filha do conselheiro Miguel Dantas Pereira. A vida de Bernardino Machado foi bastante conturbada, tendo por duas vezes ocupado o cargo de chefe de Estado e em ambos os casos sido destituído – primeiro pelo golpe de Sidónio Pais (1917) e depois pelo golpe de 28 de Maio de 1926. Após os golpes militares foi obrigado a um exílio no estrangeiro.

Bernardino Machado era visitante assíduo de Paredes de Coura, onde era proprietário, por via do casamento, de diversas casas e palacetes, com especial destaque para a já citada Quinta da Senhora do Amparo e o palacete de Mantelães. Neste último fixou residência entre 1940 e 1942, que mais não foi do que um exílio forçado pelo governo de então, receando as suas iniciativas contra os golpistas.

Também aqui descobrimos a história de um dos vultos mais ilustres do município e grande amigo de Miguel Dantas: o padre Casimiro Rodrigues de Sá. Também conhecido como abade de Padornelo, desafiou as convenções da sua época e deixou-se seduzir pelos ideais republicanos, apesar de vestir batina. Deus ocupava-lhe as orações mas a política enchia os artigos de opinião que assinava nos jornais. Começou nas fileiras do Partido Progressista, porém, em 1906 já se dizia republicano. Quatro anos depois, foi um dos que anunciou a implantação da República em Paredes de Coura, sendo eleito presidente da autarquia. Foi depois deputado na Assembleia Nacional Constituinte e Governador Civil de Viana do Castelo, tendo pelo meio votado favoravelmente a lei da Separação da Igreja e do Estado. Nunca abandonou o sacerdócio, nem mesmo quando se voluntariou para participar na Primeira Guerra Mundial.

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