Fugas - Viagens

  • Marco Duarte
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Paredes de Coura: Uma viagem por palacetes, com homens exilados e apaixonados

Viagem no tempo

Da primeira metade do século XX recuemos até ao século XIII, altura em que terá sido edificada a igreja de São Pedro de Rubiães, monumento nacional desde 1913. Seguindo o estilo românico, este templo religioso apresenta um curioso portal, com quatro arquivoltas, três das quais assentes sobre colunas de capitéis decorados com motivos vegetais e figuras de animais. As tradicionais gárgulas observam-nos com olhar ameaçador e, na entrada, duas representações escultóricas prendem a atenção: um anjo à direita e a Virgem à esquerda. O interior é iluminado por pequenas frestas que permitem entrever o que resta das pinturas a fresco ali efectuadas, muito provavelmente, durante o século XVI.

Regressando ao exterior, deparamo-nos com o necrotério, que circunda todo o edifício e no qual se estendem diversas lápides sepulcrais – as mais antigas datadas possivelmente do século XIII. Mesmo em frente à igreja encontra-se um marco miliário romano pertencente à via que ligava Bracara Augusta (actual Braga) a Astorga, no Norte de Espanha. Dizem-nos que terá sido construído pelo ano de 213 d.C., no tempo do imperador Caracala.

O nome Rubiães não deixa de causar estranheza mas, nestas coisas, há sempre uma lenda para esclarecer as dúvidas. E esta segue a tradição das histórias de mouras encantadas. Conta-se que um rapaz de nome Garcia e oriundo de família pobre tinha por hábito ajudar na missa. Certa noite, depois de se demorar na igreja mais do que o habitual, foi surpreendido por uma mulher de cabelos longos que tinha sido enfeitiçada por se recusar a casar com o noivo prometido. A mulher pediu a Garcia que desenterrasse uma pedra com letras gravadas no adro da igreja. Assim fez o rapaz que, depois de escavar um pouco, encontrava a dita pedra, de forma arredondada e semelhante a uma pia, cheia de pedaços de carvão. A mulher disse-lhe que espalhasse os carvões no degrau da porta principal da igreja. Quando uma resplandecente lua iluminou o horizonte, os carvões transformaram-se em ouro e rubis. O jovem hesitou em pegar no tesouro, pois o mesmo não lhe pertencia, mas a mulher agradeceu-lhe por a ter ajudado a quebrar o feitiço que a condenava e Garcia foi para casa carregado de rubis e ouro. Assim terá nascido o nome Rubiães.

As lendas têm o seu quê de fantasioso, mas a população não hesita em recorrer a elas para explicar aquilo que parece não ter explicação. E mesmo quando tem, mantém-se muitas vezes a ‘verdade’ da lenda. Tal como afirmava o realizador John Ford: “Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda.”

Deixemo-nos agora de lendas e visitemos a sede do concelho. O sol vai alto e é com o seu calor que somos impelidos a mergulhar no centro histórico desta vila minhota. Nas ruas, alguns habitantes aproveitam para pôr a conversa em dia ou simplesmente “esticar as pernas”. A população é hoje mais reduzida do que há 50 anos. A falta de emprego e de oportunidades obrigou os courenses a partir rumo à Europa, em busca de melhor futuro. Alguns regressaram para gozar a reforma, outros nem isso.

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