A Qarshi Shamia, datando da segunda metade do século XV, é um dos mais importantes monumentos (tanto arquitectónico como sagrado) desse legado do império otomano, com a sua cúpula prateada (uma das mais altas de Peja) e túmulos de grandes patriotas albaneses e de figuras proeminentes (do século XVI ao século XIX) em redor da mesquita. A cidade percorre-se facilmente a pé mas requer tempo para ser admirada na sua plenitude, com incursões pelo hamam de Haxhi Beu, abrigado num dos edifícios mais elegantes de Peja e bem próximo de Haxhi Zeka, onde está situado o museu etnográfico, com as suas diferentes galerias que exibem antigos trajes tradicionais e peças de artesanato de um valor inestimável — segundo registos de 1582, Peja tinha 56 diferentes tipos de artesãos e essa tradição, tão ligada ao comércio, é ainda hoje um dos símbolos da cidade, sem constituir um obstáculo ao seu progresso. Um bom exemplo da importância — e da qualidade do trabalho — dos artesãos albaneses em Peja pode ser observado na Kulla e Pashës, ao longo de uma parede decorada com um leão ou uma estrela de David, entre outros. Mas nada melhor do que caminhar pela Çarshia e Gjatë, o coração do bazar, deitando olhares às suas lojas orientais, para se perceber como a tradição do artesanato se perpetua. Bem preservada está uma parte conhecida pelos locais como rrethishtja (círculo), dominada pela sua fonte antiga (há outras, algumas do século XVI, espalhadas pela cidade), um lugar em que a vida parece correr mais devagar e onde é quase obrigatório parar para escutar histórias deste tempo e de outro, mais distante.
Alguns dos seus cidadãos têm um humor fora do vulgar. Como Bashkim Dyla, de passagem pelo Kosovo, para uns dias de férias, mas a viver em Basileia, na Suíça.
- Queres ouvir uma história verdadeira e com piada sobre Peja?
Eu abano a cabeça, em sinal afirmativo.
- O antigo presidente da câmara, Ali Lajqi, cresceu em Rugova mas não estava tão bem identificado com a cidade como os seus residentes. Uma vez, no Inverno, após chuvas intensas, um pequeno riacho que corre sob Peja, chamado Çokolica, transpôs as margens e ameaçava inundar algumas ruas. Um trabalhador do município, apercebendo-se do perigo que a corrente, cada vez mais forte, poderia representar, informou o presidente de que o Çokolica estava a criar problemas.
O sapateiro, mesmo em frente do café, abre as portas do estabelecimento, cumprindo um ritual.
- E sabes o que presidente respondeu?
Desconhecia.
- Prendam-no.
A despeito dos conflitos étnicos e do Islão ser a religião maioritária, Peja revela-se como uma urbe tolerante: os minaretes elevam-se nos céus mas também a igreja católica de Santa Catarina, construída em 1928, e, para lá dos limites da cidade, o Patriarcado de Pec, um mosteiro ortodoxo que é também um mausoléu de bispos e patriarcas sérvios.
É uma área, composta por quatro igrejas construídas entre os séculos XIII e XIV e instalações modernas para as freiras (peça-lhes para provar raki envelhecido), que estimula a serenidade, com as suas cores desmaiadas e listado pela Sérvia, já em 1947, como monumento cultural de importância excepcional — e reconhecido pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade em 2003. Embora não existam evidências, admite-se que as origens do Patriarcado remontem ao século XIII, erguendo-se, alegadamente, sobre um antigo cemitério cristão (já no tempo dos romanos) ou mesmo sobre um templo pagão mais tarde transformado numa igreja católica. O arcebispo Arcenije I foi o fundador do mosteiro e nele mandou construir uma igreja dedicada aos apóstolos, tendo em mente criar o centro da igreja sérvia num lugar menos exposto aos olhares e mais próximo do centro do Estado.