Fugas - Viagens

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A admirável Rugova das neves

Capital cultural

A meio da tarde, deixo Peja para trás e rumo a Gjakova, já com muitos dos seus monumentos restaurados depois da destruição durante a guerra. Passo grande parte do tempo a vaguear pelo grande bazar, um complexo arquitectónico e cultural que ocupa uma área de 35.000 m2, com um comprimento superior a um quilómetro, cenário de alfaiates, de ourives, de fabricantes de armas e de qeleshes, os tradicionais chapéus brancos. Não muito longe, encontro o Hani i Haraqisë, um elegante edifício de dois andares hoje explorado como restaurante-museu, mas também a Xhamia e Hadumit, uma mesquita erguida entre 1594-1595, centro cultural, educacional e religioso desta área danificado durante a guerra, ou a igreja de São Paulo e de São Pedro, um dos mais altos monumentos de Gjakova, visível desde muitos pontos da cidade e vizinha da igreja de Santo António. E, como em Peja, não faltam os monumentos com as suas características orientais, como a casa de Rexhep Haxhi Ismaili, que acolhe actualmente um museu ou a torre (kulla) de Abdullah Pashë Dreni.

Gjakova, aninhada no sopé da colina Çabrati, é uma cidade que seduz ao primeiro instante, serena, indolente, acolhedora, a curta distância de duas bonitas pontes, a de Terzi, construída no século XVIII, com um comprimento de 190 metros e os seus elegantes 11 arcos, e a de Tabak, da mesma época e rodeada por um cenário que cativa o viajante.

Palco de massacres e de crimes de guerra, Rahovec (Orahovac) é o meu próximo destino, com as suas casas trepando as colinas, os seus minaretes (conta 23 mesquitas mas em todo o município há também 12 igrejas e mosteiros) e as suas adegas (que visito) onde se produz o melhor vinho (que provo e que tem uma tradição com mais de 2000 anos) de todo o país. A escassos quilómetros, já a caminho da fronteira com a Albânia, encontro Prizren, capital cultural e gastronómica e a mais bonita cidade do Kosovo, fervilhando de vida em Shadervan, uma praça empedrada repleta de restaurantes e bares e embelezada pela presença da imponente mesquita Sinan Pasha (uma entre as duas centenas de mesquitas em Prizren), de uma ponte de pedra do século XVI mas restaurada em 1980, depois de não ter resistido à forte corrente (que galgou as margens) do rio Lumbardhi, e da fortaleza do século XI que se estende ao longo da colina.

Prizren, famosa por acolher o Dokufest, um mediático festival de documentários e curtas-metragens, tem um conjunto importante de igrejas ortodoxas sérvias mas a maior parte delas estão encerradas ao público — a de São Jorge, perto de Shadervan, é uma excepção e o lugar onde, eventualmente, pode tentar arranjar forma de visitar todas as outras, incluindo a da Virgem de Ljevis, listada pela UNESCO — mas vistas do exterior, caminhando tranquilamente pelas ruas onde se respira, apesar da presença de um razoável número de soldados, uma total serenidade, revelam toda a sua beleza harmoniosa e inspiram um sentimento de nostalgia.

Como o que provavelmente dilacera a alma de uma jovem quando recorda uma infância em que tinha tudo e ao mesmo tempo nada.

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