Percorrer horas e quilómetros de pistas com esquis nos pés,requer uma pausa a meio do dia para recuperar forças num dos restaurantes de montanha. Normalmente não se exige muito. Entra-se e pede-se o básico: uma sanduíche, um hamburguer ou uma massa. No fundo, procura-se o mais conveniente e não se dá demasiada importância se é bom ou ruim. A ideia é absorver combustível para repor energias e regressar rapidamente à viciante rotina de prosseguir montanha abaixo. Mas terá de ser sempre assim? E se o fã do fast ski for um adepto do slow food e quiser usufruir de um momento mais calmo e gastronómico à mesa, sem que a alternativa envolva uma soma avultada num dos exclusivos restaurantes de Courchevel 1850, Zermatt ou St. Moritz?
Deve ter sido o que pensaram os responsáveis da região italiana da Alta Badia, no coração dos montes Dolomitas (Património Natural da UNESCO), província de Bozano-Alto Adige, ao criarem o programa “A Taste of Ski”. O plano é simples: convida-se um conjunto de chefs de topo de Itália e pede-se-lhes que desenvolvam um prato que conste em cada um dos refúgios de montanha da estância. O programa tem início em Dezembro, na abertura da época de neve, com a presença dos chefs. Nesse dia há mesmo um ski safari com os clientes a percorrerem os restaurantes aderentes. Porém, os pratos de cada cozinheiro mantêm-se nos dias e meses seguintes, até ao fecho da temporada (3 de Abril), para que possam ser apreciados pelos milhares de turistas que esquiam nas estâncias da Alta Badia.
Este ano foram convidados os chefs do sul do país, da Câmpania à Sicília. Por exemplo, Gennaro Esposito, do restaurante Torre del Saracino (Vico Equense) oferece a sua versão de ravioli alla genovese, enquanto Ernesto Lacarinno, do mítico Don Alfonso 1890, (Sant’Agata Sui Due Golfi), propõe uma mousse de atum fresco com geleia de limão e salsa. Aos homens do sul juntam-se igualmente algumas das estrelas locais, como Norbert Niederkofler, do restaurante St. Hubertus (Hotel Rosa Alpina, São Cassiano), ou Nicola Laera, do La Stüa de Michil (Hotel La Perla, Corvara). No total são 14, tantos como os restaurantes dos refúgios de montanha que alinham na ideia.
O envolvimento de cozinheiros com estrelas Michelin neste programa tem outro mérito: o de dar visibilidade à gastronomia local (tradicional ou mais contemporânea) e a uma cozinha de padrão bastante acima à do comum fast food de montanha habitual. Por exemplo, no refúgio Col Alt, que visitámos, no cimo da montanha (a 1980m), em Corvara, é possível experimentar, por 11 euros, a proposta de Niederkofler, uma reconfortante e requintada sopa de vinho com bruschetta de batata e truta alpina marinada. Depois podemos optar pela a interessante oferta da casa e desfrutar de um tártaro de vitela, uma barriga de porco com puré de limão, ossobuco de gamo, ou uns canederli, ou knödel, um género de almôndegas feitas com pão embebido em leite e misturado com ovo, queijo, speck e um pouco de farinha. E há ainda os turtres, uma espécie de pastéis de massa tenra que se comem com sopa de cevadinha, já para não falar da doçaria, do strudel de maçã ao krapfen (o equivalente à nossa bola-de-berlim).