Fugas - Viagens

  • Fallas
    Fallas Heino Kalis/Reuters
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  • Sousa Ribeiro
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As festas de Valência até ardem

Valência será, também em 2016, a Capital da Seda, a qual foi o motor económico da cidade até ao século XIX, até a paisagem ser substituída por extensos campos de laranjas, valendo a pena uma incursão por Velluters, o bairro da seda, para perceber como, tantos anos depois, esta arte permanece viva, ou pelo Colegio Mayor de la Seda e pelas lojas onde ainda se fabricam os trajes das falleras.

Do futuro, das artes e das ciências

Durante muito tempo, pelo menos até há uns anos a esta parte, Valência produzia na alma dos visitantes memórias associadas às laranjas ou à paella, ao futebol ou às Fallas, ao porto de onde se parte para umas férias em Ibiza ou a manhãs e tardes de praia, aos pés de edifícios de betão, altos e inestéticos, ao longo da Costa Blanca. Em Outubro de 2005, após nove anos de trabalhos e a despeito de se ter tratado de uma abertura parcial, a cidade passou a fabricar em quem a visitava uma nova sensação, intimamente ligada a um movimento modernista: nascia o Palau de les Arts Reina Sofia e desse parto, tão aguardado, a primeira temporada de ópera, sob a direcção do conceituado director Lorin Maazel, com quatro concertos inaugurais antes de o espaço ser encerrado durante um ano para ultimar alguns detalhes. Aquela que é considerada, justamente, a obra mais imponente de Santiago Calatrava na deslumbrante Ciutat de les Arts i de les Ciències, uma verdadeira diva, tanto na sua variante arquitectónica, como tecnológica e musical, é um mundo de luminosidade que parece estar sempre em eterna rivalidade com o sol, um edifício que não deixa ninguém indiferente e no qual dá vontade de plantar um olhar demorado, como uma paixão que desperta um coração empedernido.

Com as suas linhas futuristas, é como uma criança a quem os pais têm dificuldade em encontrar um nome na hora do baptismo: para uns, é a nave espacial, para outros um insecto cibernético, para outros ainda, um transatlântico repousando serenamente no antigo leito do rio Turia (que nasce na província de Teruel, lança as suas águas no Mediterrâneo após correr para o mar ao longo de 280 quilómetros e foi transformado em jardim na década de 1980 após o desvio do seu curso na sequência da grande inundação da cidade em 1957). Epicentro lírico e cultural de Valência, o Palácio das Artes Rainha Sofia foi construído à base de betão branco, aço e, em menor escala, vidro e granito, ocupando, com a sua forma lenticular, qualquer coisa como 37 mil metros quadrados (o equivalente a cinco campos de futebol) e erguendo-se a 70 metros de altura. Se olharmos para a Cidade das Artes e das Ciências como se de um puzzle se tratasse, a obra-prima do arquitecto nascido em Valência há 64 anos é, de forma unânime, a peça que melhor parece encaixar-se, embora lance no visitante uma dúvida ou mesmo um sentimento de ansiedade — por que lado se pode aceder?

A sua silhueta, o seu perfil, são indissociáveis de uma elegância que prima pela originalidade e tão sedutora que o turista, deslumbrado, retarda o mais que pode uma incursão pelo interior. Os olhos, sem grande demora, fixam-se nas duas conchas que envolvem o exterior como uma mãe abraça um filho, com um peso de três mil toneladas, de aço laminado e revestidas com trencadís, a técnica decorativa que cria um mosaico com pedaços irregulares de cerâmica ou outros materiais fragmentados, tão característica da obra de Gaudí e presente noutros espaços do complexo arquitectónico. A rematar o conjunto, uma espécie de pena, com 230 metros de longitude, um elemento decorativo que realça o perfil inusitado da estrutura e que enche os habitantes locais de orgulho, contribuindo, em simultâneo, para atenuar um certo sentimento de inferioriodade face a cidades como Barcelona, Madrid e mesmo Sevilha, de quem todos começaram a falar especialmente depois da exposição universal de 1992. 

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