Ponto de chegada
Finalmente, a ansiedade desvanece-se, a dúvida dá lugar à certeza e o visitante descobre, na parte norte da ponte com mais de 50 metros de comprimento, elevando-se sobre lagoas e zonas pedonais, o acesso que conduz ao interior. Passo as bilheteiras, os guarda-roupas, investido de uma crescente gratidão que se exacerba no momento em que avisto a Sala Principal, a maior de todas, com uma capacidade para 1700 pessoas, desenhada para acolher espectáculos de ópera mas também, com a sua capacidade para se converter, em palco de outras artes cénicas, do ballet às operetas, entre outras. Mesmo rodeada de silêncio e com as suas linhas simples, a sala respira solenidade mas também um avanço tecnológico, inerente às melhores salas de ópera do mundo, que permite ao espectador acompanhar, através dos écrãs instalados, o fluir do libreto em diferentes idiomas, ao mesmo tempo que usufrui da comodidade das poltronas e dos quatro níveis dos palcos, todos em tons claros, para ter uma visibilidade assombrosa de um cenário descomunal, traduzido em 530 metros quadrados. Daqui ou dali, desde qualquer recanto, é perfeitamente visível o fosso da orquestra, com capacidade para 120 músicos e quatro planos móveis que adoptam múltiplas configurações e alturas de forma a obter a melhor qualidade sonora — na verdade um som que parece estar, a toda a hora, em perfeita sintonia com quem aprecia o espectáculo, criando na assistência um sentimento de protagonismo que resulta de uma comunicação directa, como se nada os separasse, aos músicos e ao público, apesar da distância física.
Os adeptos da arquitectura — mas não só — devem estender a sua visita ao anfiteatro, que sugere uma borbulha branca, aparentemente para convencer quem o visita de que, dando ares de entranhas, nenhum outro nome, além de insecto cibernético, se aplica no dia do baptizado deste imenso espaço abençoado pelo futurismo, tendo como padrinho Santiago Calatrava. Similar, em amplitude, à Sala Principal (1500 lugares), o cenário, apetrechado de elementos móveis, está preparado para abrigar espectáculos e também para acolher actuações em directo de coros e orquestras, bem como cinema e vídeos em ecrãs gigantes, graças aos modernos sistemas de audição com que está dotado.
Um sentimento de intimidade caracteriza a Aula Magistral, reduzida em dimensão mas suficiente para receber pequenas manifestações de carácter social, como actuações de dança e de teatro ou simplesmente congressos e conferências de imprensa — sem ignorar, pela panorâmica que possibilita, a sua varanda situada a oeste, como um miradouro que deixa ver quase 90 mil metros quadrados de jardins e mais de dez mil folhas de água que decoram o complexo. Visto desde o exterior, o Palau de les Arts Reina Sofia dá uma imagem de grandiosidade que não se dissipa no momento em que se caminha pelo seu interior — e por vezes até se exacerba. Quando se atinge o limite sudoeste do palácio, este abre as suas portas como quem deseja perpetuar uma imagem de riqueza e de grandeza arquitectónica para o Teatro de Cámara-Sala de Exposiciones, que funciona de forma independente e com vocação para peças dramáticas experimentais e mostras de pintura e escultura.