Fugas - Viagens

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    Cinque Terre, Itália
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    Cinque Terre, Itália - Marina di Rio Marina di Rio DR/PN Cinque Terre
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    Cinque Terre, Itália - Vernazza Fototeca ENIT/Gino Cianci
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    Cinque Terre, Itália - Manarola Manarola DR/PN Cinque Terre
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    Ljubljana, Eslovénia DR
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    Ljubljana, Eslovénia Dunja Wedam/Turismo Ljubljana
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    Jodhpur, Índia Adnan Abidi/Reuters
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    Jodhpur, Índia Adnan Abidi/Reuters
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    Jodhpur, Índia Adnan Abidi/Reuters
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    Izamal, México Jean-Pierre Lescourret
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    Izamal, México Victor Ruiz Garcia
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    Izamal, México Victor Ruiz Garcia
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    Petra, Jordânia Sousa Ribeiro
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    Petra, Jordânia Ali Jarekji/Reuters
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    Petra, Jordânia Erik de Castro

As cidades que falam a linguagem das cores

Por Sousa Ribeiro

O amarelo de Izamal, o azul de Jodhpur, a rosa do deserto que é Petra ou Ljubljana, capital verde da Europa. Até ao quadro vivo de Cinque Terre. Vamos seguindo cores a propósito do Dia Internacional da Cor, a 21 de Março.

“De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.”
Italo Calvino, As cidades Invisíveis

No Dia Internacional da Cor, que se celebra em todo o mundo a 21 de Março, a Fugas parte à descoberta de lugares que se destacam pelos seus matizes. Os destinos são múltiplos — da brancura de Udaipur e de Salzburgo ao rosa de Jaipur e Toulouse, do vermelho de Bolonha ao cinzento de Berlim, entre muitos mais. Optámos por outros, dispersos, como Jodhpur, na Índia; Petra, na Jordânia; Izamal, no México; Ljubljana, na Eslovénia, capital verde da Europa este ano. E tudo termina num mar de cores, não numa cidade, mas nas Cinque Terre, um conjunto de aldeias na Ligúria que se debruçam sobre o Mediterrâneo.

Jodhpur, Índia: O céu na terra
Quando a avisto, ainda de longe, pouco mais perscruto do que um penhasco, como se fosse uma barreira que a natureza, temendo a mão do homem, se encarregou de ali colocar. O autocarro, um idoso rangendo num queixume eterno, aproxima-se, lambe a berma sem passeio e levanta uma nuvem de pó; as mulheres, com os seus saris, como uma sinfonia de cores, cobrem a face tisnada, fustigada pelo sol inclemente. Só depois me apercebo, recortando-se contra o céu azul, subindo como quem deseja tocar a abóbada celestial, de um forte que encima um vale, talhado na rocha e provavelmente escondendo minudências de uma delicadeza que a robustez e a sobriedade do exterior não deixam adivinhar.

Cidade do majestoso Rajastão, uma toponímia que o estado herdou dos rajputs (da antiga província de Rajputana), esses temerários guerreiros que se opuseram a todos os invasores, Jodhpur, situada nos limites do deserto de Thar e abrigando perto de um milhão de habitantes, é como um céu na terra, com as suas casas da parte antiga pintadas de azul claro. A melhor perspectiva sobre esta urbe que em tempos se destacou como centro comercial, acolhendo as caravanas que viajavam entre a Ásia Central e a Índia, obtém-se desde o majestoso forte de Mehrangarth, um dos mais importantes do Rajastão e edificado no século XV sobre um precipício rochoso que se ergue a mais de 120 metros de altura — e onde agora me encontro, ao lado de um grupo de mulheres que vestem todas as cores do mundo, escutando, graças às correntes de ar, os sons indecifráveis, como murmúrios, que sobem das ruas e vielas a esta hora congestionadas. 

Quando os olhos parecem cansar-se de tanto azul, andando de um lado para o outro como se presenciassem uma partida de ténis, logo se plantam numa construção magnificente, também visível desde essa espécie de varanda que é o Mehrangarth, ainda hoje gerido pelos descendentes do Marajá de Jodhpur. Se o forte, com as suas sete portas, é uma obra-prima da arquitectura, o palácio Umaid Bhawan, que avisto à distância, banhado pelos raios do sol, é um dos monumentos mais surrealistas do Rajastão, com as suas semelhanças com a Capela Sistina, no Vaticano, e a Estação Victoria, em Londres. Desenhado pelo presidente do British Royal Institute of Architects para o marajá Umaid Singh, começou a ser erguido em 1929 mas foram precisos mais 15 anos — e o esforço diário de três mil trabalhadores — para ser concluído. Umaid Singh, falecido em 1947, não chegou a desfrutar verdadeiramente da imponência da estrutura e o filho e seu sucessor, Hanwant Singh I, um apaixonado pela aviação (a quem se deve a construção do aeródromo de Johpur), também morreu pouco depois, em 1952, na sequência de um acidente aéreo com o seu próprio aeroplano, deixando para uma criança de quatro anos, Gajsingh II (herdeiro do título sob a regência de sua mãe), um imenso palácio vazio, onde continua a habitar, se bem que uma grande parte do edíficio é agora ocupada por um hotel de uma cadeia internacional.

A opulência do palácio, no qual foram utilizados 70 mil m3 de pedra arenito e mármore, contendo mais de 300 quartos, dois teatros, piscina coberta, uma abóbada da sala central com 60 metros de altura e onde se chegavam a organizar banquetes para mais de mil pessoas, essa opulência — dizíamos — contrasta com a humildade dos pequenos cubos pintados de azul aos pés do forte, espalhando-se como num céu pintado apenas com algumas nuvens, as casas de outras tonalidades. Gajsingh II é um dos maiores promotores do turismo no Rajastão e a ele se ficará a dever, em parte, a popularidade de que goza Jodhpur entre os turistas, seduzidos pelo rótulo de cidade azul. Mas Jodhpur não é, no Rajastão, a única a gozar desse título — também Bundi se veste com a mesma tonalidade.

Por que razão são as casas pintadas de azul? Há quem o associe a Shiva, com o argumento de que aquele que é um dos deuses mais venerados da Índia ficou com a cara dessa cor depois de ter ingerido veneno. Se fosse essa a explicação, aldeias, vilas e cidades transformariam o país num mar azul. Há ainda quem defenda que, pelo menos em Jodhpur, são habitadas por brâmanes. Seguramente que algumas delas servem de residência a membros da principal casta indiana. E o que dizer do facto de a tinta azul ser mais barata, afastar as térmitas e os insectos e manter as casas mais frescas?

Olhando a cidade, com a torre do relógio recortando-se no meio, de pouco importa perceber a causa. O azul impele-me a virar costas ao forte, a descer e a vaguear por este céu na terra.

Petra, Jordânia: Uma rosa no deserto
Não há muitos lugares no mundo que despertem tanto o imaginário de viandantes como Petra. Um silêncio sepulcral acompanhou-me, nessa manhã de muito frio, ao longo de um desfiladeiro que me fazia sentir pequenino, verdadeiramente liliputiano, quando fitava as suas paredes subindo até 200 metros e desconfortável quando media a largura que por vezes não excede os dois metros. O céu cobria-se de cinzento, de um cinzento deprimente, mas eu idealizava, a qualquer momento, desfeita uma curva pronunciada, um cenário capaz de me provocar uma orfandade de palavras, de me fazer abrir a boca de espanto, como se com ela conseguisse, literalmente, engolir toda a sua beleza e esplendor, perpetuando-a na alma e na memória.

Avisto antes a silhueta de um camelo repousando sobre quatro patas, indolente, e, logo depois, subindo e descendo o olhar, a pedra esculpida, com uma sensibilidade e um detalhe que não parecem ser deste mundo, os mesmos elementos decorativos que levam viajantes a deixar-se seduzir por estes monumentos gravados na pedra para despertar sentimentos tão profundos. Desse mesmo encanto terá padecido, como que abalado por um tremor, Johann Ludwig (também conhecido como Jean Louís) Burckhardt há pouco mais de 200 anos, em 1812, quando os seus olhos se fixaram, provavelmente em êxtase, na cidade grandiosa e hierática.

Nascido em 1784 em Lausanne, este explorador suíço, profundo conhecedor da língua árabe e da religião muçulmana, viveu dois anos na Síria antes de empreender uma viagem entre Damasco e o Cairo. Feito prisioneiro durante 20 dias e forçado a viver em diferentes casas para se identificar com a hospitalidade (Welcome to Jordan é uma das frases que mais se escuta errando pelo país) dos locais, Johann Ludwig Burckhardt terá ouvido da boca de um beduíno a história, tão bela quanto enigmática, de umas ruínas situadas algures num vale das montanhas, em Wadi Musa (Vale de Moisés), em tempos remotos uma cidade que teria abrigado 20 mil habitantes.

Dominado pelo forte desejo de conhecer o lugar, próximo do suposto túmulo de Aarão, irmão de Moisés, Burckhardt, utilizando o argumento de que pretendia sacrificar uma cabra em honra do profeta, contratou um guia local para o conduzir através do deserto, certamente ainda com mais inquietude do que aquela que acompanha os turistas ao percorrerem a garganta de mais de um quilómetro, a Bab as-Siq, que termina no majestoso Al-Khazneh.

Sem ter a certeza — e por isso escreveu que “é altamente provável que as ruínas de Wadi Musa sejam as da antiga Petra” —, Bruckhardt não dispôs de grande tempo para contemplar um conjunto arquitectónico que provoca no viajante uma impressão que nenhuma palavra é capaz de descrever; o suíço receava ser desmascarado, e reconhecido como um infiel à procura de tesouros, o que lhe poderia custar a própria vida, como custara a um tal de Seetzen, de quem ouvira falar em Malta, num relato que traçava os passos deste aventureiro que viajara do Egipto para a Arábia em busca de Petra, mas assassinado antes de poder dizer ver Petra e morrer.

Bruckhardt faleceu cinco anos depois, no Cairo, vítima de desinteria, não sem antes fazer outras redescobertas importantes no Egipto mas provavelmente com a sensação de ter visto muito pouco de Petra, a cidade onde os nabantinos, aqui estabelecidos desde o século VI a.C., enriqueceram à custa das taxas que cobravam aos mercadores com as suas caravanas carregadas de incenso, mirra e especiarias provenientes da Índia, da Somália e da Etiópia.

Os olhos do suíço apenas se pousaram em alguns túmulos e no Al-Kazneh, o Tesouro que sossega finalmente os corações desassossegados dos turistas; mas Petra é muito mais, é uma viagem demorada aos seus recantos, não apenas à fachada helenística mais fotografada, como também ao conjunto de túmulos que constitui a Rua das Fachadas, a das colunas, aos restos de fortes e igrejas, de palácios e templos, de prisões e casas trogloditas e ao admirável Al-Deir, o mosteiro rasgado nas pedras testemunhas de histórias e lendas. E Petra vai mudando, ao longo do dia, de cor, entre um vermelho desmaiado e um rosa, até reflectir, com aparente gratidão, mal o dia ameaça escoar-se, os tons crepusculares que ficam durante muito tempo gravados na memória. 

Izamal, México: O sol na terra
A jovem, com os longos cabelos negros caindo-lhe pelas costas, tarda em dar pela minha presença junto à recepção. Os olhos e todos os seus sentidos estão colados no écrã de televisão, como se desejasse entrar no pequeno aparelho que emite um som roufenho. Os mexicanos são loucos por telenovelas e poucos são aqueles que nunca viram ou nunca ouviram falar de Izamal.

Município do estado de Iucatão, contando pouco mais de 25 mil habitantes, Izamal é um dos cenários mais procurados em todo o país para as filmagens de cenas que tanto seduzem novos e velhos. Se, em Jodphur, é o céu que desce à terra, em Izamal é o sol — muros, casas, fachadas de igrejas, tudo está pintado de amarelo.

Disfrútala.

Está escrito num camião, a letras vermelhas, mas em redor domina uma única tonalidade.

É como um convite para errar pela cidade, tão ignorada perante a proximidade de tantas atracções (Mérida, por exemplo, está a menos de 70 quilómetros), mais mediáticas e mais exploradas pela indústria do turismo. Em Izamal respira-se serenidade e melancolia.  E, todavia, a cor está sempre lá, uma única, a amarela, para nos deter como um semáforo. Ora nos contempla das suas casas térreas, ora nos recorda a sua história, escrita nas fachadas de igrejas, de um amarelo que queima e atinge toda a sua plenitude durante o entardecer silencioso e dourado. O anúncio do crepúsculo derrama luz por todos os recantos, os raios do sol brilham no empedrado, parecem transmitir uma outra dimensão às ruas, e o final de tarde adquire sempre as cores outonais, seja na Primavera, no Verão ou no Inverno.

Por vezes, nada mais se ouve do que o ruído produzido pelas calesas e pelos cascos dos cavalos, martelando as ruas empedradas, transportando um ou outro turista.

Integrando, desde 2002, o projecto dos Pueblos Mágicos de México, apoiado pela Secretaria do Turismo (Sectur), Izamal tem vindo a resgatar e a restaurar, desde essa altura, todos os espaços que possam atrair mais visitantes, além daqueles — e são muitos — que recebe devido à sua forte vocação religiosa. O monumento mais procurado é o convento fransciscano de Santo António de Pádua, erguido sob a plataforma de uma pirâmide maia (da qual foram utilizados materiais para a sua construção) e um dos mais extensos do mundo se contabilizarmos o amplo átrio que o enlaça (com quase oito mil metros quadrados) e que se estende para lá de 75 arcos resplandecendo, como todo o conjunto, de amarelo.

Mandado levantar pelo frei Juan de Mérida entre 1553 e 1561, serviu também de residência ao ínfame Diego de Landa — o responsável pelo Auto de Fé de Mani, ordenando a destruição de códices maias e de cinco mil imagens de culto desta civilização —, o bispo que terá mandado vir desde a Guatemala duas virgens imaculadas, uma para Mérida e outra para Izamal, conhecidas como as duas irmãs (uma outra lenda fala de sete irmãs espalhadas por diferentes povoações). A Nossa Senhora de Izamal, padroeira de Iucatão, se atribuem diversos milagres (entre eles ter-se tornado mais pesada quando quiseram levá-la a Valladolid, uma cidade próxima) mas não resistiu a um incêndio em 1829. A sociedade mexicana, com o seu conhecido fervor religioso, pediu em peso à proprietária da irmã gémea da virgem que a oferecesse a Izamal e esta, a pé, foi transportada em procissão solene desde Mérida até ao camarim onde continua a merecer quase todas as atenções de quem visita a cidade.

No exterior, o sol gigante sobe no céu e faz incidir os seus raios sobre a cidade de cor única mas de muitos títulos: a cidade dourada, das colinas, a cidade das três culturas (pré-hispânica, colonial e contemporânea) e, o mais sonante, o orvalho do céu, correspondendo esta última designação à derivação da palavra maia Isamal ou Zamná.

Ao longe, avista-se a pirâmide de Kinich-Kakmó, construída em honra das divindades maias do sol e do fogo.

A cidade, importante centro religioso, económico e político durante nove séculos (entre 300 a.C.e 600 d.C.), foi fundada pelos Chanes, povo maia proveniente de Bacalar mais tarde denominado povo itzá, e com eles chegou o sacerdote Zamná, depois elevado à categoria de divinidade no panteão dos maias, como Deus do universo e da criação.

Nada, neste passado, explica a opção quase generalizada pela cor amarela. Entre os residentes, há quem defenda que sempre assim foi; outros não vão mais longe do que 1993, por altura da visita do Papa João Paulo II, que receberam com tanta alegria que não resisitiram a pintar tudo à volta de amarelo, com pequenas faixas brancas, imitando as cores da bandeira do Vaticano.

Ljubljana, Eslovénia: Verde mais verde não há
Ljubljana, capital da Eslovénia, não é verde nas diferentes formas e cores da sua arquitectura mas é, este ano, sucedendo a Bristol, no Reino Unido, a Capital Verde da Europa — e não faz mal recordar que metade do território do país está coberto de florestas. Ao mesmo tempo, orgulhando-se desse estatuto, Ljubjana é também uma cidade que se destaca precisamente pela sua arquitectura. Desde logo, escutando os sons difusos do Ljubljanica, pelas suas Tronostovje, três pontes que cruzam este rio e no lugar onde em, 1842, apenas existia uma velha estrutura de pedra, assinalando, segundo a lenda, o palco onde Jasão e os Argonautas combateram com um dragão, um terrível monstro adoptado como emblema da cidade — no escudo de armas e representado por diversas figuras, verdadeiramente grotescas, a meia dúzia de passos, na ponte dos Dragões, que, reza de novo a lenda, movem a cauda sempre que uma virgem a percorre, entre as margens do Ljubljanica.

É ao longo delas, pela fragrância primaveril que se liberta e pela sedução que o rio exerce, com as suas águas sulcadas por barcos de turistas, que se gasta a maior parte do tempo quando se vagueia por Ljubljana, uma cidade com aproximadamente 280 mil habitantes e habitada por um número razoável de famosos arquitectos (como Nande Korpnik), focados na cor e não nas cores cinzentas do passado, na luz e, ao mesmo tempo, respeitando o ambiente.

Se o apelo da natureza não é, na capital, tão forte, a escassos 20 quilómetros, rodeado de pinheiros e ocupando uma área de 80 hectares que inclui um campo de golfe, o Volcji Potok Arboretum, com as suas 3500 plantas perenes e espécies de árvores de muitos pontos do globo, é um lugar que apazigua, onde dá vontade de sentar, contemplando flores de tantas cores e a natureza em todo o seu esplendor, como um retrato em miniatura do país.

Embora com concorrentes de peso, como Nijmegen, Oslo, Essen e Umeå, Ljubjlana foi eleita, em 2014, em Copenhaga, capital verde para o ano em curso, um prémio pelo trabalho desenvolvido nos últimos 10/15 anos e pela estratégia adoptada para um desenvolvimento sustentável e assente em centenas de projectos que têm em comum o facto de pretenderem melhorar a qualidade de vida dos seus residentes. Um pouco por todo o lado, são visíveis esses cuidados com a população local e o seu bem-estar — proíbe-se ou limita-se a circulação de carros em benefício do transporte público e são cada vez em maior número os espaços pedonais, as vias para as bicicletas, os jardins e os parques renovados.

Ljubljana é uma cidade alegre, cheia de vida, com uma cultura muito activa, com cor (assim brilhe o sol), uma cidade que nunca desilude, relaxante — com a sua parte antiga que conserva a atmosfera de tempos passados e casas medievais, os mercados ao ar-livre, como o da praça Pogacarjev, os seus museus, a catedral de São Nicolau, dedicada aos barqueiros e pescadores, e as suas praças, como a de Preseren, o verdadeiro coração da cidade e que presta homenagem ao poeta esloveno.

Do alto do castelo, vejo, lá em baixo, aos pés da colina, as águas do Ljubljanica correrem sem pressas, formando um cotovelo que parece abraçar a cidade virada para um futuro verde.

Cinque Terre, Itália: Tanta terra, tanta cor
Riomaggiore, Manarola, Corniglia, Vernazza e Monterosso. São muitos cotovelos, muitas curvas, a forte sensação de ser guiado por uma serpente de asfalto — e traiçoeira pela facilidade com que vai revelando cenários para os quais qualquer um é obrigado a desviar os seus sentidos. A estrada encima a falésia, o mar acompanha-a, dele sobe um perfume; as terras anunciam-se, uma atrás da outra, ao longo do Golfo de Génova, até perfazerem o total de cinco. Essas, permanecendo encantadoras, como varandas para o Mediterrâneo, foram de tal forma exploradas pelos turistas que as entidades locais decidiram, há bem pouco tempo, instituir um bilhete de entrada, procurando controlar — e obter receitas — um afluxo que aumenta de ano para ano. A atracção é compreensível mal se avista uma delas — e seja ela qual for —, ora dominando a escarpa ora subindo na forma de V, com as suas casas como sentinelas de cores garridas, vigiando o mar azul. O impacto é imediato e levou a UNESCO a incluí-las na sua lista de Património Mundial da Humanidade, provocando um aumento de turistas mas, ao mesmo tempo, colocando Riomaggiore, Manarola, Corniglia, Vernazza e Monterosso a salvo das investidas dos construtores. Com ou sem turistas, as Cinque Terre são sempre mais belas vistas à distância (um percurso pedestre entre Riomaggiore e Monterosso é facilmente percorrido em pouco menos de cinco horas), como um quadro que se pinta e tem como moldura pequenas e serenas baías, com as suas águas límpidas, socalcos e as suas vinhas, o trabalho de tantas gerações num lugar onde muitos dos homens continuam a ocupar-se das actividades tradicionais, na agricultura, na pesca e cada vez mais na produção de vinho.

Riomaggiore, situada no fundo de um vale estreito e a primeira das cinque para quem viaja desde La Spezia, também está rodeada de solcalcos onde ainda se cultiva o vinho e o azeite. Embora abrigue duas igrejas, encimando as casas, o verdadeiro culto em Riomaggiore é a Via dell’ Amore, um celebrado percurso a pé, de apenas dois quilómetros, que liga aquela aldeia a Manarola. Com as suas casas amontoadas, num equilíbrio precário e pintadas de todas as cores, com as ondas que se quebram contra as rochas, de dia ou de noite, Manarola inspira o romance, rivalizando com Vernazza, à qual se chega depois de passar por Corniglia, a única sem porto e com uma vocação mais rural. Vernazza, mais desenvolvida no turismo, acolhe a maior concentração de curiosos e de comércio mas é justamente a aldeia mais fotografada das cinco: uma língua avançando para o mar, o pequeno porto, o castelo Doria que se ergue, na sua imponência, no cimo do penhasco, em permanente alerta sobre o casario coberto de múltiplos matizes.

E chega-se, em muito pouco tempo, a Monterosso, com as suas praias de areia e uma nova zona residencial, em Fegina, construída a pensar no turismo e ligada ao centro histórico por um túnel. Monterosso, com menos de 1500 residentes, foi excluída, durante uns meses, em finais da década de 1940, pelas autoridades italianas, do conceito Cinque Terre — a aldeia era demasiado grande. Do alto de um promontório, em Monterosso, avistam-se, entre mar e montanha, as outras quatro: Vernazza, Corniglia, Manarola e Riomaggiore. Envoltas em romance e convidando a contar o número de cores com que estão pintadas as suas casas.

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