Fugas - Viagens

  • ©BRECON BEACONS NPA
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  • Sousa Ribeiro
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Verde mais verde não há

O Brecon Beacons, com a sua paisagem cultural, influenciada pela natureza mas também pela mão do homem no cultivo secular das terras agrícolas, é um espaço com uma biodiversidade admirável, com uma variedade de habitats que resultam na presença de milhares de espécies de fauna e flora, incluindo árvores e plantas que não se encontram em outro lugar do mundo.

A caminho de Cardiff, faço uma pausa e passeio com Charlotte Baston pelos jardins coloridos do Cyfarthfa Castle, na Brecon Road, em Merthyr Tidfil, nos limites do Brecon Beacons. Uma parte significativa do rés-do-chão está agora ocupada por uma galeria e um museu (entrada gratuita) que traça o crescimento de Merthyr Tidfil à custa da produção de ferro e mostra locomotivas com histórias e os passos de movimentos políticos trabalhistas, de levantamentos a martírios, até à chegada ao poder de Keir Hardie, o escocês (1856-1915) que se tornou no primeiro membro do Parlamento em representação dos Labour.

A mansão, construída como uma fortaleza ou um castelo (por isso é conhecida como The Pretend), em 1824, pelo homem-forte do negócio de ferro, William Crawshay, encerra uma história que obriga Charlotte Baston a fitar o chão que pisa, como quem sente vergonha.

- Passear por este parque faz com que evoque muitas emoções. A estética da estrutura impressiona, os meus cães gostam de conhecer outros cães, as pessoas detêm-se para um curto diálogo, escuta-se o cântico dos pássaros, a atmosfera é bela e serena. Depois ponho-me a pensar, sempre que ando por aqui, sentindo-me desconfortável, nas minhas lições de história nas cadeiras da escola: o homem que mandou construir este castelo era um tirano prepotente, que se considerava o rei do castelo enquanto olhava, do cimo da colina, as centenas de trabalhadores que empregava, para ter a certeza de que eles lhe pertenciam. Este negócio foi feito à custa de sangue, suor, lágrimas e por vezes de vidas, ao passo que o tirano e a sua família conheciam uma existência de luxo.

O azul é a cor dominante nos céus, os jardins estão bem tratados, o verde corre até ao horizonte distante. Charlotte Baston prossegue após uma pausa para libertar o cão da trela:

- Nesta casa os ponteiros dos relógios andavam mais devagar, ele conseguiu, através de um processo desonesto, que os empregados trabalhassem mais horas. Pagava-lhes com fichas que apenas podiam ser gastas nas suas lojas caríssimas — muitos deles passavam fome. Sinto um conflito interno e interrogo-me: toda esta beleza à custa de tanta miséria? Uma idiotice, como muitas no país. Mas aqui e um pouco por todo o Brecon Beacons, com a sua forte herança rural e industrial, o cenário é magnificente, a paisagem e o silêncio libertam-nos de pensamentos. 

A música enche o interior do carro. “A lonely girl/From the Brecon Beacons”.

Brecon, oito mil habitantes

Não é por mero acaso que, entre todas as vilas englobadas no Brecon Beacons, Brecon conquista (77%), de acordo com um estudo recente da equipa de marketing do parque, o topo das preferências dos visitantes, superando Abergavenny (52%), famosa por acolher o Skirrid Mountain Inn, o pub mais antigo de Gales, há mais de 900 anos a servir cerveja, Crickhowell (50) e Hay-on-Wye (41%) — se bem que nesta última não está contabilizado o meio milhão de participantes no festival literário anual que enche as ruas da primeira booktown a ser criada no mundo, em 1961, seguindo um conceito de Richard Booth, de comercializar livros usados em antiquários.

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