Fugas - Viagens

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Em Málaga também pode chover

As linhas mais antigas de Málaga estão à vista de todos no Teatro Romano. Em grande parte preservado até aos dias de hoje e recuperado por escavações, fica de frente para a pedonal rua Alcazabilja, que se assume assim com um privilegiado varandim sobre o monumento. As bancadas foram construídas aproveitando a encosta do monte Gilbralfaro, onde está a alcaçova árabe com os seus cuidados pátios e jardins andaluzes.

A curta distância está a catedral, ou seja, “La Manquita”, como sarcasticamente os locais costumam referir-se ao templo. Esta é uma das estórias mais pitorescas da história contemporânea da cidade, contando-se que foram então desviadas para a guerra da independência dos Estados Unidos as verbas que estavam destinadas à obra de conclusão da segunda torre sineira do monumento, que está, assim, ainda hoje por concluir.

Por perto, e com isto queremos referir o máximo de uma centena de metros, está o Museu de Pablo Picasso, que sempre desejou vê-lo instalado na sua cidade mas que o franquismo nunca permitiu dada a sua reconhecida oposição ao regime. Diz-se ter sido esta a razão porque nunca quis voltar à cidade. Ocupa todo Palácio do Conde de Buenavista, com claustro e pátio andaluz, que alberga uma exposição permanente com cerca de duzentas obras do artista.

Numa cidade que se orgulha de albergar 34 museus, basta caminhar mais um pouco até atingir a Praça de La Merced, onde está a também musealizada casa onde nasceu Picasso.

É por esta zona que está uma das mais icónicas, e concorridas, tabernas da cidade. Além do evidente ar do tempo, há pipas por todo e lado e sevilhanas de bandeja na mão. Na Bodega El Pimpi há um pátio interior em cujas paredes crescem trepadeiras e a tradição flamenca emparceira com vinhos e petiscos.

Entrando pela rua Puerta Del Mar, há que parar logo na praça Felix Saenz, em cuja embocadura está a histórica Cafetaria La Malagueña. Foi recentemente recuperada, com o cuidado de manter o mobiliário e a traça de sempre, e cidade reconhece-lhe o mérito de preservar a tradição dos churros de Málaga. Ou seja, de Tejeringo ,o que significa qualquer coisa como seringa.

O mestre churreiro Juan Jesus está disposto a levá-lo à cozinha para explicar que são feitos com uma massa mais leve e delicada, que são mais finos e que a sua principal característica está no facto de serem salgados. Sim, não são doces, que é para serem embebidos no chocolate quente.

Quase em frente está a loja Ultramarino Là Mallorquina, uma das clássicas mercearias onde se encontra a melhor variedade de enchidos, queijos, conservas, frutos secos e um aroma irresistível que se desprende da variedade de presuntos que preenchem o tecto. Há também criteriosa selecção de vinhos e azeites, e até bacalhau da melhor cura. De Portugal, claro!

A um quarteirão está o La Recova, um bar que mistura o ambiente de tasca e mercearia onde é possível petiscar. Ambiente de moda, hipster, toda a espécie de objectos e artesanato retro, onde o vinho é servido à caneca, há potes de barro com moscatel e bagaço e a a tabuleta indica a “retrete”. O espaço é amplo, dividido por duas salas, mas parece estar permanentemente esgotado. Do pequeno-almoço à ceia.

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