Fugas - Viagens

  • Jorge Guerrero/AFP
  • DR
  • Jon Nazca/Reuters

Em Málaga também pode chover

Por José Augusto Moreira

Cidade antiga, cuidada, aprazível e com uma enorme riqueza cultural e patrimonial, Málaga surpreende pela vivência e dinâmica do centro histórico e cultura gastronómica. É claro que nunca chove, mas se essa raridade acontecer é só para lembrar que é muito mais que um destino de sol e praia.

Se alguma vez lhe disserem que em Málaga nunca chove, pode garantir que não é verdade. Nós mesmos o testemunhámos, numa tarde de sexta-feira, em inícios de Maio, quando em menos de uma hora caíram mais de 100 litros por metro quadrado. No dia seguinte, as notícias davam conta que a quantidade de chuva derramada sobre a cidade naquela hora correspondia, nem mais nem menos, a cerca de um quarto do total de chuva que chega à região durante todo o ano.

O episódio, raro como se vê, serve não só para atestar o carácter de absoluta excepcionalidade da chuva, mas ajuda também a perceber que Málaga é muito mais que o destino de veraneio que se tornou popular nas décadas mais recentes. Para lá do sol e praia, há uma cidade antiga, cuidada, aprazível e com uma enorme riqueza cultural e patrimonial.

Não fosse berço de Pablo Picasso, habitada desde as primeiras idades do homem e morada para as mais importantes culturas mediterrânicas. Aqui se instalaram longamente fenícios, gregos, romanos e árabes, e Málaga foi também uma das cidades mais importantes no tempo da expansão marítima, um dos mais activos portos do Mediterrâneo, e, mais recentemente, um marco industrial na Espanha moderna.

Ao esplendor histórico, a cidade junta um assinalável património construído, com a vantagem de que tudo isto forma um conjunto abordável e fortemente vivenciado pelos seus habitantes e visitantes. Há de tudo dentro do núcleo histórico da cidade. Do Teatro Romano às construções medievais, da alcáçova aos conventos e catedrais, até aos pomposos palacetes e casas solarengas do século XIX.

O mais palpitante é que nada disto cheira a museu ou tem apenas vida passada. Num entramado de ruas e ruelas em grande parte preservada ao tráfego automóvel, há vida, actividade, comércio e muita animação. Ao final da tarde, esta é como poucas uma cidade onde o estilo de partilha e convívio que caracteriza a sociedade espanhola melhor espelha essa movida.

Igrejas e museus misturam-se com a infinidade de bares, tascas e tabernas, a vida e a animação fervilham por entre pedras e calçadas que são testemunhos da história. Sempre num estilo muito próprio e com o orgulho local a manter bem vivas todas as tradições culturais e gastronómicas.

Neste último aspecto, a vida da cidade é até capaz de surpreender, já que a cultura gastronómica é tão fort,e e de tal maneira vivenciada, que estranha não ser essa faceta tão conhecida como o é no caso de outras capitais espanholas, como San Sebastian, Bilbao, Barcelona ou Compostela.

Para o visitante, o melhor é deixar-se perder ao final de tarde por essas ruas e ruelas, orientando-se pelo ondular do movimento dos passeantes, pelo cheiro a petiscos, o tilintar de copos ou o som das castanholas que aqui e ali atravessa os umbrais. E nem sequer será uma aventura, já que por todo o lado domina o ambiente de partilha e convívio de desfrute e conversa.

Comece por onde começar, sempre se há-de cruzar com a Porta do Mar, a Rua Nova, a comercial Marquês de Lários, as praças El Siglo, Uncibay ou La Merced, que são algumas das referências maiores dentro da parte histórica.

--%>