Fugas - Viagens

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Em Málaga também pode chover

Se o giro for matinal, a não perder a visita ao Mercado Atarazanas, nome que herdou do antigo estaleiro naval do tempo em que o mar por ali andava. Hoje recuou umas centenas de metros. É um mercado exemplar, recuperado, mas com o ambiente e todas as funcionalidades de sempre. Tradicional, farto e sem cedência a modas ou modernices. Limpo, asseado e a fervilhar de actividade, é o espelho da diversidade e riqueza de produtos que alimentam a cozinha local e também do gosto e culto que os locais prestam à gastronomia.

Estará, provavelmente, já cansado e com apetite. O melhor é acolher-se em Los Patios de Beatas, um bar e clube de vinhos que, pelo seu critério e representatividade, é por muitos designado como o único e verdadeiro museu de Málaga. Propriedade de um conhecido e premiado sommelier local, Julien Sanjuan, proporciona refeições com acompanhamento vínico, provas de vinhos e de azeites e a possibilidade de provar os mais 60 vinhos que são servidos a copo. O foco é a região de Málaga, mas há vinhos de todas as regiões de Espanha e de algumas das mais afamadas do mundo.

Está cansado e quer voltar ao sossego de casa ou do hotel. Para que não perca pitada da animada e divertida vida de rua, o melhor é fazê-lo a pé, já que as distâncias são sempre pequenas. Não se preocupe que não há-de chover e se por raríssima coincidência isso acontecer, não se preocupe que é só para lhe fazer notar que Málaga é muito mais que um destino de sol e praia.

Zurrapa, peixe frito e sardinhas no espeto

Petiscar é talvez a actividade mais praticada e popular na região de Málaga. A gastronomia assenta desde sempre nos peixinhos fritos, com forte implantação em bairro de tradição pescadora, como é o caso dos povoados de El Palo e El Pedregalejo. É certo que as casas de pescadores cederam o lugar a bairros turísticos ou residenciais, mas abundam ainda os chiringuitos (bares de praia) especializados em peixe frito.

Merecem um culto especial as sardinhas no espeto, cuja peculiar forma de as assar se transformou numa espécie de ícone da região. Método artesanal outrora utilizado pelos pescadores na chegada à praia, está hoje popularizado e vê-se até na montra de bares e restaurantes. É na praia, no entanto, que tem toda a sua magia e significado.

O braseiro é feito com lenha de oliveira, sendo as sardinhas colocadas num espeto de cana. O segredo está na arte de elaboração do espeto, com a navalha, e na forma como as sardinhas são trespassadas, para evitar que se rompam e caiam na areia quando começam a ficar cozinhadas. O espeto é colocado na areia, na vertical, a uma distância do calor que permita lenta assadura, e do lado de onde sopra o vento, para evitar que as sardinhas apanhem os aromas fumados.

Já todos ouvimos falar de zurrapa espanhola, mas a que se usa em Málaga não tem nada que ver com vinhos e a sua qualidade. Trata-se de um petisco à base da carne de porco, que é usado para apaladar o pão ou em saborosas tostas para, aí, sim, puxar um copo. A carne, do lombo, é assada e desfiada, sendo depois envolvida por uma massa com banha e pimentão. É com esta zurrapa, tradicionalmente guardada em alguidares de barro, que se vai apaladar o pão. Se torrado tanto melhor, para desfazer a banha e acrescentar sabor.

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