A fachada histórica mantém-se, para lá dos portões de ferro (classificados como artefacto histórico de categoria um pela cidade de Lausanne), e a decoração ficou a cargo da designer de interiores Maria Vafiadis, responsável pelas remodelações de outros hotéis europeus históricos. Da renovação resultou um novo edifício com 100 novos quartos (perfazendo um total de 196, uns com vista para o lago e outros para a cidade), um terraço no topo com vista panorâmica (Sky Terrace) e um spa (aberto desde em Maio) com oito salas de tratamentos, piscinas exterior e interior, jacuzzi, sauna e ginásio.
“O novo viajante de luxo procura algo completamente diferente daquilo que a geração anterior procurava. Dantes, o classicismo e a formalidade, em termos de relação com os funcionários do hotel, eram privilegiados. Acredito que isto está a mudar. As pessoas chegam aqui à procura de uma experiência, de uma emoção”, refere Alain Kropf, gerente responsável do hotel.
Kropf, de 49 anos, nasceu, cresceu, formou-se e começou a trabalhar em Lausanne. Um dia achou que precisava de “viajar pelo mundo” para conhecer outras culturas. Esteve em Omã, Hong Kong, Indonésia… “e muitos outros países”. “Quando tive oportunidade, 16 anos depois do início desta viagem pelo mundo, voltei a Lausanne, a este hotel. E quis tentar trazer o sentido de hospitalidade asiático”, explica, lamentando que na Suíça, tal como em muitos outros países europeus, se tenha perdido o “verdadeiro significado” de estar ao serviço de alguém. “Estar ao serviço de alguém é algo muito nobre. Costumamos pensar que estar ao serviço de outra pessoa é um acto inferior. Mas não, é algo muito importante, servir a família ou os amigos de alguém”, atesta.
O português José Moura, a trabalhar noutro hotel de cinco estrelas na Suíça há dois anos, reforçaria esta ideia um dia depois, realçando as diferenças entre a hotelaria em Portugal e na Suíça e referindo que neste último país, a grande aposta é mesmo no turismo de luxo com experiências (e tratamento) de luxo mas com formalidade q.b.
Chaplin escolheu a Suíça
Não mergulhámos nem no lago nem nas piscinas do hotel. Seguimos por entre colinas verdes íngremes com pequenas casas a espreitar aqui e ali, sem nunca perder de vista o lago, de Lausanne até à vila de Corsier-sur-Vevey, em Vevey, onde Charlie Chaplin viveu os últimos 25 anos da sua vida.
O actor e cineasta foi proibido de entrar nos Estados Unidos quando regressava da antestreia do seu filme Luzes da Ribalta (1952) em Londres. Decidiu, então, mudar-se com a mulher, Oona, e os filhos, para a propriedade Manoir de Ban. Escolheu-a pela tranquilidade – tem 14 hectares, com um jardim e vista para os Alpes, está suficientemente longe da estrada e suficientemente perto do lago. Chaplin dizia, e lê-se nas paredes desta casa numa citação retirada da sua autobiografia, que era do largo alpendre, com vista para o lago e para as “montanhas reconfortantes” que podia “pensar em nada e apenas aproveitar a sua magnífica serenidade”.
39 anos após a sua morte (na manhã de Natal de 1977), a mansão pintada de verde-água é agora um museu. O museógrafo Yves Durand e o arquitecto suíço Philippe Meylan demoraram 15 anos a conceber o museu Chaplin’s World – The Modern Times Museum (Mundo de Chaplin – O Museu dos Tempos Modernos). É o primeiro museu do mundo dedicado em exclusivo a Chaplin. “É um museu em movimento, não é estático. É como o personagem a quem presta tributo”, explicou na inauguração do museu, em Abril, Michael Chaplin, um dos onze filhos de Charlie Chaplin.